A CHINA TOMOU POSSE DO MST - GAZETA DO POVO

 

Por Leonardo Coutinho - 09/09/2023 14:00

Detalhe de cartaz de propaganda chinês da época maoísta sobre a mecanização agrícola. 

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) divulgou que está fazendo um negócio da China. Literalmente. O Partido Comunista Chinês vai investir na organização que tem como uma das suas principais atividades a invasão de terras.

No fim de julho, uma delegação de 14 pesquisadores da Universidade Rural da China visitou assentamentos do MST e prometeu intercâmbio e suporte técnico para ajudar os assentados a modernizarem seu sistema produtivo.

A parceria, no entanto, é um belo negócio que os chineses avistaram depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na China carregando no colo o chefão do MST, João Pedro Stédile.

De volta ao Brasil, o MST se abrigou sob o dossel de institucionalidade do Consórcio Nordeste – que, não por acaso, também foi à China acomodado na algibeira presidencial. As duas organizações anunciaram que serão uma espécie de laboratório do empreendedorismo agrícola chinês.

O Partido Comunista Chinês já tem os grandes produtores brasileiros de joelhos. Os fazendeiros praticamente se tornaram fornecedores de cliente único, tornando o agronegócio nacional perigosamente dependente dos interesses do partido

O governo do Rio Grande do Norte estendeu o tapete vermelho para os chineses demonstrarem a grandiosidade de sua tecnologia agrícola e recepcionará um campo de testes de pelo menos 31 modelos de equipamentos que serão usados em lavouras do MST.

Antes de tomar esta iniciativa, entretanto, o Consórcio Nordeste bateu em muitas portas, dentro e fora do Brasil, em busca de financiamento “carimbado” para as máquinas chinesas. Como não deu certo, resolveram, então, transformar a região em um grande showroom para ajudar a convencer não só entes governamentais e agências de fomento, mas também os produtores da magnificência do maquinário que o Partido Comunista Chinês quer desovar no Brasil.

A aliança do Consórcio Nordeste com os interesses da China não é recente. Desde a sua criação, em 2019, a associação de governos esquerdistas nordestinos se apresentou como trincheira chinesa no Brasil. Uma espécie de movimento de secessão, que tinha como pretexto se contrapor ao “fascismo” do governo federal que buscava se afastar da China ao mesmo tempo que se alinhava aos Estados Unidos, na época comandados por Donald Trump.

Durante a pandemia de Covid-19, o consórcio passou a tratar diretamente com o embaixador chinês e com o governo da China, que ignorou qualquer tipo de protocolo e respeito na relação bilateral com o Brasil e passou a lidar com o grupo de governadores como se eles formassem um Estado dentro do Estado.

Quais serão as reais implicações da marcha da China sobre a agricultura familiar brasileira, valendo-se dos governadores esquerdistas do Nordeste e do MST? Não é possível prever com exatidão, mas os sinais apresentados pelos próprios envolvidos na operação indicam que:

1. O Partido Comunista Chinês já tem os grandes produtores brasileiros de joelhos. Os fazendeiros praticamente se tornaram fornecedores de cliente único, tornando o agronegócio nacional perigosamente dependente (e subserviente) dos interesses do Partido Comunista Chinês;

2. Os chineses viram um grande negócio no Brasil. Não soa nada absurdo ver, em breve, milhões e milhões de reais provenientes dos cofres públicos jorrarem para o financiamento dos tratorzinhos chineses. O diminutivo não é depreciativo, mas uma referência ao sistema de minimáquinas que a China desenvolveu para atender minipropriedades;

3. A conquista da produção da agricultura familiar, que ficará atrelada – potencialmente em um modelo de sociedade 50%-50% com os chineses. O que antes era 100% brasileiro perderá, de imediato, metade da influência nacional e possivelmente muito mais do que isso no que se refere à destinação para o mercado interno;

4. Quase ninguém se lembra, mas, durante a pandemia de coronavírus, a China chantageou meio mundo – e não foi diferente com o Brasil – sequestrando insumos para vacinas e emperrando as cadeias logísticas para se blindar de qualquer crítica ao regime e sua lista sem fim de violações. O Congresso brasileiro, políticos de todos os matizes ideológicos e a imprensa, sem falar do Consórcio Nordeste, uniram-se em coro para reverenciar a ditadura. Pois sem ela todos nós morreríamos, não é mesmo? Como o Partido Comunista entendeu o processo de domesticação ao qual fomos submetidos, eles avançaram na conquista;

5. O esquerdismo latino-americano do qual o MST faz parte é terreno fértil para o Partido Comunista Chinês semear suas políticas estratégicas que nada têm a ver com os interesses locais, mas apenas servem de plataforma para os objetivos globais do regime chinês.

Uma pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Latinobarómetro, com sede no Chile, revelou que o desprezo dos latino-americanos pela democracia tem crescido de forma perturbadora. Do total de 20 mil pessoas ouvidas em 17 países da região, 17% disseram preferir um regime autoritário a um sistema democrático. Para outros 16% tanto faz viver em uma democracia ou uma ditadura. A coisa fica ainda mais horripilante quando perguntados se defendem a democracia: o porcentual dos que disseram “sim” caiu de 63%, em 2010, para 48%, em 2023.

China, Rússia, Irã, Cuba, Venezuela e as demais autocracias que existem pelo mundo trabalham noite e dia para desacreditar as democracias. O mais bizarro é que eles têm conseguido fazer isso muito bem com o apoio de muita gente da direita que acredita que questões ligadas à corrosão de valores familiares ou tudo que cabe no tal wokeismo são culpa da democracia.

 Esse sentimento repleto de confusão é usado pelas ditaduras para se normalizarem, colocando em xeque os valores democráticos. Ninguém tem investido mais nisso que o Partido Comunista Chinês. Xi Jinping tem gastado muito de seu capital político e financeiro para vender a ideia de que o Ocidente não pode ter o “monopólio da democracia”, ou mais precisamente dizer o que é democracia. Xi, na maior desfaçatez possível, passou a vender a ideia de que há uma democracia com características chinesas. Truque que angariou adeptos dentro dos principais partidos políticos do Brasil, inclusive.

A China compra quase tudo e todos. Não resta dúvidas de que a sua mais recente aquisição é o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra. Mas, no caso, parece que não foi bem uma compra e sim, como dizem os seguidores de Stédile, uma ocupação. Ou seja, a China tomou posse de algo do qual ela se sente literalmente dona.

Leonardo Coutinho

Jornalista, autor do livro “Hugo Chávez, o espectro”, pesquisador e comentarista sobre segurança e relações internacionais. Escreve semanalmente, desde Washington, D.C. 

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HENRY KISSINGER, EX-SECRETÁRIO DE ESTADO DOS EUA E GANHADOR DO NOBEL DA PAZ, MORRE AOS 100 ANOS - GAZETA DO POVO

 

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz e ex-ministro das Relações Exteriores dos EUA, Henry Kissinger| Foto: EFE/EPA/DAL ZENNARO

O ex-secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger morreu nesta quarta-feira (29) aos 100 anos de idade em sua casa, em Connecticut. A empresa de consultoria de Kissinger confirmou o falecimento, embora não tenha dado detalhes sobre a causa da morte.

"Ele será enterrado em uma cerimônia familiar privada. Mais tarde, haverá um serviço memorial em Nova York", disse a Kissinger Associates em um comunicado.

Kissinger deixa a esposa, Nancy Maginnes Kissinger, dois filhos de seu primeiro casamento e cinco netos. Seus parentes sugeriram no comunicado que, em vez de flores, as pessoas enviassem doações para o hospital veterinário Animal Medical Center, em Nova York.

O lendário e controverso diplomata permaneceu ativo até o fim, apesar de sua idade avançada. Em julho ele visitou a China, já centenário, para se reunir com o líder do país, Xi Jinping, e com autoridades de alto escalão.

Suas opiniões sobre assuntos atuais foram citadas com frequência na imprensa mundial.

Kissinger nasceu em 27 de maio de 1923, em Fürth, na Alemanha, em uma família judia que emigrou para Nova York fugindo do nazismo quando ele ainda era adolescente. Se tornou cidadão americano na década de 1940 e serviu três anos no Exército, vindo a entrar, ano depois, no Corpo de Contrainteligência do país.

Recebeu o Prêmio Nobel da Paz junto ao chanceler vietnamita Le Duc Thuo por suas negociações secretas para acabar com a Guerra do Vietnã e normalizou as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a China durante a presidência de Richard Nixon (1969-1974).

Na política externa, Kissinger também atuou no apoio a ditaduras como as da Argentina entre 1976 e 1983 e os últimos anos do regime de Francisco Franco na Espanha (que terminou com a morte do líder em 1975). Teve papel importante na Operação Condor, que visava reprimir opositores de esquerda na América Latina, e mobilizou influência no golpe de Estado contra Salvador Allende no Chile, em 1973. (Com Agência EFE)