'Abacate' era uma das contas nas quais Cabral recebeu mais de R$ 120 milhões em propina


Planilha de doleiro mostra repasses em 4 contas, identificadas como "Abacate", "Verde", "Super"e "CM"



Tabela do MPF sobre propina paga ao ex-governador Sérgio Cabral no esquema da Fetranspor - Reprodução

RIO - Dos quase R$ 260 milhões pagos em propina pelas empresas de ônibus do Estado do Rio identificados na operação "Ponto final", quase R$ 122,9 milhões foram destinados ao ex-governador Sérgio Cabral, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF). Os repasses foram feitos pelo doleiro Álvaro José Novis a Carlos Miranda, operador de Cabral, entre setembro de 2009 e janeiro de 2016.
Em delação premiada, Novis contou ao MPF que operava quatro contas, com valores paralelos da Fetranspor, destinadas ao ex-governador: "CM", por onde passaram R$ 70 milhões; "Abacate", que movimentou R$ 31,6 milhões; "Verde", com transações de R$ 16,5 milhões; e "Super", com R$ 4 milhões. "Abacate", "Verde" e "Super" seriam codinomes usados para indicar pagamentos excepcionais, de acordo com o depoimento de Novis.
Planilhas apresentadas pelo doleiro indicam repasses feitos ao ex-governador a partir de 2009, mas o delator contou ao MPF que os pagamentos começaram quando Cabral ainda era deputado estadual, antes, portanto, de tomar posse como governador, em 2007. Num dos anexos de sua delação, Novis dá detalhes sobre as entregas de dinheiro:
"Que os pagamentos feitos a CARLOS MIRANDA eram destinados ao ex-governador SERGIO CABRAL; Que as entregas feitas a CARLOS MIRANDA se davam da seguinte forma: CARLOS MIRANDA entrava em contato com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, indicando o endereço da entrega; Que, então, LAVOURAS indicava ao Colaborador o local onde deveria ser entregue o recurso; Que os pagamentos para SERGIO CABRAL via CARLOS MIRANDA se iniciaram no período em que SERGIO CABRAL encontrava-se da ALERJ", relata, fazendo referência a outro investigado, José Carlos Lavouras, integrante do conselho da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).
Um outro personagem do esquema do ex-governador Sérgio Cabral também é citado por Álvaro Novis: o doleiro Vinícius Claret, o Juca Bala, responsável por lavar e remeter ao exterior parte dos recursos desviados pela quadrilha. Segundo Novis, Carlos Miranda repassava os recursos recebidos das empresas de ônibus a Juca Bala:
"Que a planilha SUPER era o dinheiro para JUCA BALA; Que os pagamentos para a conta CM saíram da conta F/SABI; Que a conta sob o codinome VERDE/SMS, é uma conta em que CARLOS MIRANDA recebia créditos da F/SABI, a mando de JOSÉ CARLOS LAVOURAS; Que a maioria das transações de CARLOS MIRANDA iam para JUCA BALA", afirmou Novis em delação. Juca Bala foi citado por dois delatores da Operação Calicute, os irmãos Renato e Marcelo Chebar. Doleiros, eles revelaram que, quando o esquema de propina de Cabral ficou grande demais, em 2007, tiveram que chamá-lo para assumir as operações de lavagem.


Cabral recebia 'prêmios' por reajustes em tarifas de ônibus, aponta MPF

























Esquema de corrupção nos transportes do RJ era um dos mais antigos do estado. Operação Ponto Final prendeu 10 suspeitos, incluindo Jacob Barata Filho, que tentava embarcar para Portugal.

O esquema de corrupção envolvendo o transporte público rodoviário no Rio de Janeiro é um dos mais antigos no estado e continuou beneficiando o ex-governador Sérgio Cabral e sua quadrilha mesmo após ele deixar o governo, segundo o procurador da República Eduardo El Hage. De acordo com as investigações, valores desviados indevidamente eram encaminhados para Cabral como "prêmios" em troca de benefícios para as empresas de ônibus - como a concessão de reajustes nas tarifas.
Dez pessoas foram presas na Operação Ponto Final - dois alvos de mandados de prisão estão foragidos e terão seus nomes encaminhados para a Interpol ainda nesta segunda, de acordo com a Polícia Federal. De acordo com as investigações, R$ 260 milhões em propina foram desviados das empresas de ônibus e pagos pelos investigados a políticos do estado.
Apenas Cabral recebeu R$ 122 milhões em propina, segundo o MPF. Um dos benefícios concedidos pelo ex-governador e investigado pelo MPF é a autorização para um reajuste de 7% nos preços das passagens em 2009, quando ele deveria ter sido de 2%.
“A gente tem informação que o Sérgio Cabral, mesmo após ter largado o governo em 2014, manteve uma influência política decisiva e tinha muitos créditos a obter da Fetranspor [Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro], em razão das negociatas que ele fez durante o seu governo. Então, sempre que havia um reajuste o Sérgio Cabral recebia prêmios da Fetranspor e ele distribuía esses prêmios entre a organização criminosa dele", afirmou El Hage.















    Pagamentos permaneceram após saída de Cabral do governo

Investigações
Segundo relato do doleiro e operador Álvaro Novis em delação premiada, o presidente do Conselho de Administração da Fetranspor, José Carlos Lavouras, o procurou para “recolher regularmente dinheiro de algumas empresas de ônibus integrantes dessa Federação, administrar a sua guarda e distribuir a diversos políticos”.
Através das propinas que eram pagas para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e para o Poder Executivo, os empresários conseguiam diversos benefícios, como a ausência de licitação, o reajuste do valor das passagens acima do previsto e isenções fiscais no IPVA e ICMS do diesel, por exemplo.
Além de Cabral, já preso, a operação identificou a participação de mais um agente público no esquema - Rogério Onofre, ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Rio (Detro). De acordo com as investigações, as ações dele atingiam de forma direta as empresas de transporte intermunicipal no Estado - como no caso do aumento das passagens acima do permitido.
Segundo as investigações, o dinheiro era recolhido nas garagens das empresas e contabilizado através de planilhas. Nelas, estavam o nome de diversas pessoas do setor de transportes, como o José Carlos Lavoura e Rogério Onofre, e operadores financeiros de Cabral, como Carlos Miranda.
As provas recolhidas indicam o uso da empresa de transporte de valores Trans Expert como ferramenta para lavagem e ocultação do dinheiro da propina. Segundo o MPF, a arrecadação formava a "caixinha da propina" para agentes públicos.
"Essa operação não nos surpreende na medida em que os esquemas do senhor Sergio Cabral e dos seus liderados já passaram pela Secretaria de Obras, já passaram pela Secretaria de Saúde, agora estamos falando do setor de transportes e, portanto, nessa medida o que a gente tem a reconhecer desses fatos é que ele loteou toda a estrutura governamental, todas os contratos foram objetos de pagamento de propina pra sua realização", explicou o procurador da República, Leonardo Freitas.
Para os investigadores, a organização criminosa que atua no setor de transportes também mostra indícios de "cartelização". O Ministério Público Federal (MPF) está pedindo a indisponibilidade de valores de Cabral e Miranda, relacionados aos R$ 260 milhões pagos em propina.
Segundo o procurador El Hage, o esquema criminoso, além de ser um dos mais antigos existentes no estado, é também um dos mais maléficos, "pois prejudica a população de baixa renda e paga tarifas além do que seriam as tarifas justas e adequadas, em razão do pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos”.

Operação antecipada
A operação precisou ser antecipada porque os agentes receberam informação de que o empresário Jacob Barata Filho, um dos alvos de mandado de prisão - embarcaria em um voo para Lisboa, em Portugal, neste domingo (2). Ele foi preso na área de embarque do aeroporto do Galeão, no Rio. Sua defesa, entretanto, nega que ele estivesse tentando fugir do país.
De acordo com a Polícia Federal, Barata já tinha mandado a família Portugal, uma atitude que indicaria uma provável fuga por ter conhecimento da investigação. Com o empresário, também foram apreendidos mais de R$50 mil em moedas estrangeiras.

Mandados de prisão preventiva confirmados:
Jacob Barata Filho, empresário do setor de transportes, suspeito de ter recebido R$ 23 milhões em propina (preso)
Rogério Onofre, ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do RJ (Detro), suspeito de receber R$ 44 milhões (preso)
Lélis Teixeira, presidente da Federação das Empresas de Transporte do RJ (Fetranspor), suspeito de receber R$ 1,57 milhões (preso)
José Carlos Reis Lavoura, conselheiro da Fetranspor, suspeito de receber R$ 40 milhões (está em Portugal e a PF acionará a Interpol para inclusão na difusão vermelha)
Marcelo Traça Gonçalves, presidente do sindicato de ônibus e apontado como realizador dos pagamentos (preso)
João Augusto Morais Monteiro, sócio de Jacob Barata e presidente do conselho da Rio Ônibus, suspeito de receber R$ 23 milhões (preso)
Cláudio Sá Garcia de Freitas (preso)
Márcio Marques Pereira Miranda (foragido)
David Augusto da Câmara Sampaio (preso)

Mandados de prisão temporária confirmados:
Carlos Roberto Alves (preso)
Enéas da Silva Bueno (preso)
Octacílio de Almeida Monteiro (preso)


DIVALDO FRANCO E SAI BABA QUE MATERIALIZA OBJETOS AO VIVO