Cavendish,
da amizade à mágoa com Cabral
Ex-dono da Delta, que buscava retomar negócios, não perdoa ex-governador por se sentir abandonado
A ordem de prisão do ex-empreiteiro Fernando Cavendish chega no momento em que ele tentava reabilitar a imagem, após a recuperação judicial e venda dos ativos da Delta para o grupo espanhol Essentium, no ano passado. Quem conviveu com Cavendish nas últimas semanas o descreve como um homem magoado, que não perdoa o ex-governador Sérgio Cabral por tê-lo abandonado em 2012, quando veio à tona a relação do ex-dono da Delta com Carlinhos Cachoeira, durante a Operação Monte Carlo e a CPI do Cachoeira.
Só sorrisos. Sérgio Cabral (ao centro) se diverte com Cavendish (abaixado) e outros assessores diante do Hotel Ritz, em Paris: época de vacas gordas
A empreiteira de Cavendish viveu o auge entre 2006 e 2011, quando tornouse a campeã de pagamentos do governo federal e amealhou algumas das principais obras do governo fluminense sob a gestão de Cabral, como a reforma do Maracanã e o Arco Metropolitano. Em 2010, o faturamento da empresa foi de R$ 3 bilhões.
Mas uma tragédia familiar revelaria que as relações entre Cavendish e Cabral iam além dos negócios públicos. Na queda de um helicóptero, em junho de 2011, na Bahia, morreram Mariana Noleto, namorada do filho do então governador; Jordana Kfuri, mulher do ex-presidente da Delta; e mais quatro pessoas. Cabral e o filho Marco Antônio também participavam da viagem, mas não embarcaram na aeronave, que levou somente as mulheres e as crianças. O motivo da viagem à Bahia foi a festa de aniversário de Cavendish.
OBRAS SEM LICITAÇÃO
Na época, Cabral negou que as relações pessoais com o então presidente da Delta tivessem influenciado no aumento de contratos da construtora. A empreiteira obteve cerca de R$ 1 bilhão em obras no período entre 2007, primeiro ano do governo Cabral, e junho de 2011. Reportagem publicada pelo GLOBO à época mostrou que, somente em 2011, a empreiteira obteve R$ 58,7 milhões em empenhos para a realização de serviços para os quais não houve licitação, pois foram aprovados em caráter emergencial.
No ano seguinte ao acidente, a Operação Monte Carlo foi um novo baque ao prender Carlinhos Cachoeira sob a acusação de que comandava uma quadrilha que explorava o jogo ilegal em Goiás, e descobrir que vinha da Delta grande parte do dinheiro repassado às empresas fantasmas do bicheiro. De acordo com o MPF, a relação era tão próxima que Cachoeira seria um sócio oculto da Delta. Depois da operação e da CPI do Cachoeira, na Câmara, Cavendish deixou o comando da Delta. A empresa pediu recuperação judicial.
Depois de a CPI do Cachoeira já ter sido instalada no Congresso, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho divulgou fotografias em que Cabral aparecia risonho ao lado de Cavendish, em Paris. Em outra imagem, o ex-presidente da Delta aparecia com secretários de Cabral usando guardanapos na cabeça. No grupo, estavam o então secretário de Saúde, Sérgio Côrtes, e o de Governo, Wilson Carlos.
Cabral conseguiu livrar-se de depor na CPI e saiu de cena, encerrando também a amizade com o ex-empreiteiro. Cavendish, isolado e sem a empresa, mudouse do Rio para São Paulo. Embora resista a revelar os bastidores da relação da Delta com o poder, abre uma exceção quando o tema é a decepção com Cabral.
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