Segurança de 'presídio Vip' onde está Cabral é vulnerável, apontam agentes

Muro dá acesso a terraços de residências. Dois portões separam unidade da rua e há espaço para pouso de helicóptero. Ex-governador e outras 145 presos foram transferidos para ex-Bep da PM













Rio - O ex-governador Sérgio Cabral foi transferido ontem com outros 145 presos do Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste, para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte. Em sua nova morada funcionava, até 2015, o Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar — unidade famosa pelas mordomias concedidas aos internos e desativada após uma juíza da Vara de Execuções Penais (VEP) ter sido agredida durante vistoria.
De acordo com agentes penitenciários, o local é mais vulnerável do que o presídio de Bangu, onde os presos estavam. “Ao contrário de Gericinó, que tem três portarias fortificadas até chegar aos presídios, no local onde Cabral está só existe um portão para a rua antes da porta de entrada para a unidade”, afirmou um inspetor, que pediu anonimato.
Em 2004, criminosos abriram o portão com o uso de explosivos e entraram no local, que era ainda a Casa de Custódia de Benfica. Na ocasião, 14 presos foram resgatados. Os internos restantes realizaram rebelião, que resultou na morte de 34 pessoas. Como o pátio do estacionamento é grande houve espaço para um helicóptero, que conduzia o pastor Marcos Pereira, pousar. Agentes que trabalham no local souberam da transferência do ex-governador só ontem e afirmaram que a cadeia não oferece segurança. “É mais do que um absurdo o Cabral estar aqui. Ele tinha que estar junto com o Fernandinho Beira-Mar em um presídio de segurança máxima”, opinou um agente.

Tentativas de evitar a transferência de Cabral e de outros presos das operações Lava Jato e Calicute para o antigo BEP não faltaram. O promotor André Guilherme Freitas, Execução Penal, entrou com uma ação popular em março solicitando que a transferência fosse suspensa. Freitas já tinha pedido antes a mudança de custódia de Cabral para Curitiba, após constatar que ele recebia visitas irregulares.
Na ação, o promotor sustentou que a cadeia “possui estrutura diferenciada e deficitária, com maior dificuldade de fiscalização (...) São presumíveis e evidentes vantagens ilícitas que serão viabilizadas aos futuros internos”. Ele chegou a chamar a unidade de “presídio vip da Lava Jato”. Na semana passada, uma cópia da ação popular foi enviada à VEP que determinou, em seguida, que câmeras fossem instaladas. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) acatou a ordem.
Apesar da reforma de R$ 26 mil no presídio para receber os novos internos, não houve obras externas para reforço da segurança.
O chão do pátio do banho de sol é de areia, que possibilita a ocultação de objetos. Somente um muro o separa da rua. A escada em que os presos transitam é externa, sendo apenas gradeada. Do topo da escada, é possível acessar o teto da unidade que, por sua vez, dá acesso à via pública. Além disso, ao lado de um dos muros há residências. Em 2014, o miliciano Carlos Ribeiro fugiu após pular para o teto de uma igreja, colado com o muro do então Bep.
Nova ala tem três galerias com 162 vagas
A cela onde Cabral está custodiado fica no segundo piso da unidade e tem 16 metros quadrados. A nova ala tem 162 vagas: são três galerias com nove celas cada uma. Cada cela tem capacidade para três beliches e possui colchões que foram usados por atletas nos Jogos Olímpicos. Ontem foram levados para lá 53 presos com curso superior, incluindo Cabral e outros alvos da Lava Jato, além de 93 que não pagaram pensão alimentícia.
No local, cada detento também terá direito a uma tomada, poderá levar ventilador e terá espaço equipado para TV de, no máximo, 14 polegadas. A cela tem banheiro com vaso sanitário, pia e chuveiro.
Na reforma, foi utilizada verba do Fundo Especial Penitenciário e mão de obra de presos de regime semiaberto. De acordo com a Seap, 53 câmeras irão monitorar a unidade.
Vizinhos da cadeia reclamam
O dinheiro que gastaram na reforma desse presídio para receber o Cabral deveria ser gasto com a saúde que está falida no estado”, disse Maria da Paz, 60 anos, comerciante e moradora de Benfica e vizinha da cadeia desde 1985. 
João Brás, 62, tecelão, acredita que Cabral terá regalias. “É uma falta de respeito com a sociedade. Ele roubou tanto, acabou com o estado e agora vem pra cá. Aqui ele terá uma mordomia imensa”, opinou.
A mesma opinião possui Adriana Cunha, 46. “Moro em Benfica há anos. Cabral vai comer e beber de graça e vai continuar a gastar o dinheiro do pobre trabalhador que ele roubou”, disse. “É tão ladrão como um traficante. Sou funcionária pública e estou há três meses sem receber”, reclama Tereza Cristina Amorim, 53.

Fonte: Jornal O Dia


Marcos Valério revela os segredos do mensalão e envolve Lula

Algumas recordações
O empresário Marcos Valério, apontado como o operador do esquema, diz que, em troca do seu silêncio, recebeu garantias do PT de uma punição branda. Condenado pelo STF por vários crimes, cujas penas podem chegar a 100 anos de prisão, ele revela que o ex-presidente Lula sabia de tudo e que o caixa para subornar políticos foi muito maior: 350 milhões de reais
Faltavam catorze minutos para as 7 da manhã da última quarta-feira quando o empresário Marcos Valério, o pivô financeiro do mensalão, parou seu carro em frente a uma escola, em Belo Horizonte. Alvo das mais pesadas condenações no julgamento que está em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), ele tem cumprido religiosamente a tarefa de levar o filho todos os dias ao colégio. Desce do carro, acompanha o menino até o portão e se despede com um beijo no rosto. Chega mais cedo para evitar ser visto pelos outros pais e alunos e vai embora depressa, cabisbaixo. “O PT me transformou em bandido”, desabafa. Valério sabe que essa rotina em breve será interrompida. Ele é o único dos 37 réus do mensalão que não tem um átimo de dúvida sobre seu futuro. Na semana passada, o publicitário foi condenado por lavagem de dinheiro, crime que acarreta pena mínima de três anos de prisão. Computadas as punições pelos crimes de corrupção ativa e peculato, já decididas, mais evasão de divisas e formação de quadrilha, ainda por julgar, a sentença de Marcos Valério pode passar de 100 anos de reclusão. Mesmo com todas as atenuantes da lei penal brasileira, não é improvável que ele termine seus dias na cadeia. Valério tem culpa no cartório, mas fica evidente que ele está carregando sobre os ombros uma carga penal que, por justiça, deveria estar mais bem distribuída entre patentes bem mais altas na hierarquia do mensalão. É isso que mais martiriza a alma de Valério neste momento, uma dor que ele tenta amenizar lembrando, sempre que pode, que seu silêncio sobre os responsáveis maiores acima dele está lhe custando muito caro.Apontado como o responsável pela engenharia financeira que possibilitou ao PT montar o maior esquema de corrupção da história, Valério enfrenta um dilema. Nos últimos dias, ele confidenciou a pessoas próximas detalhes do pacto que havia firmado com o partido. Para proteger os figurões, conta que assumiu a responsabilidade por crimes que não praticou sozinho e manteve em segredo histórias comprometedoras que testemunhou quando era o “predileto” do poder. Em troca do silêncio, recebeu garantias. Primeiro, de impunidade. Depois, quando o esquema teve suas entranhas expostas pela Procuradoria-Geral da República, de penas mais brandas. Valério guarda segredos tão estarrecedores sobre o mensalão que não consegue mais reter só para si – mesmo que agora, desiludido com a falsa promessa de ajuda dos poderosos que ele ajudou, tenha um crescente temor de que eles possam se vingar dele de forma ainda mais cruel. Os segredos de Valério, se revelados, põem o ex-presidente Lula no epicentro do escândalo do mensalão. Sim, no comando das operações. Sim, Lula, que, fiel a seu estilo, fez de tudo para não se contagiar com a podridão à sua volta, mesmo que isso significasse a morte moral e política de companheiros diletos. Valério teme, e fala a pessoas próximas, que se contar tudo o que sabe estará assinando a pior de todas as sentenças – a de sua morte: “Vão me matar. Tenho de agradecer por estar vivo até hoje”.    

DE OLHO NO PASSADO – Preso duas vezes desde que eclodiu o escândalo, o empresário Marcos Valério hoje despreza e teme os mensaleiros que ajudou.
Sua mulher, Renilda Santiago, já tentou o suicídio três vezes. Há duas semanas, ela telefonou a uma amiga para dizer que iria a um reduto do tráfico encravado na região central de Belo Horizonte comprar uma arma. Avisou que havia decidido dar um tiro na cabeça. Renilda está mergulhada em crise aguda de depressão. Os dois filhos do casal vivem dramas à parte. Meses atrás, o menino, de 11 anos, tentou fazer um teste de admissão em uma escola mais perto de casa, mas a diretora nem deixou o garoto começar a prova. A direção da escola não queria entre seus alunos o filho de Marcos Valério. A filha mais velha, de 21 anos, passou por constrangimentos cruéis. Em um debate na faculdade de psicologia, o assunto escolhido pelos colegas foi justamente o comportamento do pai dela. Humilhada, ela saiu da sala. Chega a ser assustador, mesmo que previsível, que as pessoas esqueçam a mais consagrada prática cristã, civilizada e jurídica – a de que os filhos não devem pagar pelos erros dos pais. Marcos Valério sofre de síndrome do pânico e praticamente não prega os olhos à noite. Sobre o PT e seus antigos parceiros ele vem dizendo: “Eu detesto esse pessoal. Esse povo acabou com a minha vida, me fez de um tamanho que eu não sou. O PT me fez de escudo, me usou como um boy de luxo. Mas eles se ferraram porque agora vai todo mundo para o ralo”. O medo ainda constrange Marcos Valério a limitar suas revelações a pessoas próximas. Até quando?
Mensalão
“O caixa do PT foi de 350 milhões de reais”
PARCERIA – O ex-ministro José Dirceu começa a ser julgado nesta semana. Valério diz que ele era o braço direito do ex-presidente no esquema.
A acusação do Ministério Público Federal sustenta que o mensalão foi abastecido com 55 milhões de reais tomados por empréstimo por Marcos Valério junto aos bancos Rural e BMG, que se somaram a 74 milhões desviados da Visanet, fundo abastecido com dinheiro público e controlado pelo Banco do Brasil. Segundo Marcos Valério, esse valor é subestimado. Ele conta que o caixa real do mensalão era o triplo do descoberto pela polícia e denunciado pelo MP. Valério diz que pelas arcas do esquema passaram pelo menos 350 milhões de reais. “Da SMP&B vão achar só os 55 milhões, mas o caixa era muito maior. O caixa do PT foi de 350 milhões de reais, com dinheiro de outras empresas que nada tinham a ver com a SMP&B nem com a DNA”, afirma o empresário. Esse caixa paralelo, conta ele, era abastecido com dinheiro oriundo de operações tão heterodoxas        
 quanto os empréstimos fictícios tomados por suas empresas para pagar políticos aliados do PT. Havia doações diretas diante da perspectiva de obter facilidades no governo. “Muitas empresas davam via empréstimos, outras não.” O fiador dessas operações, garante Valério, era o próprio presidente da República.
Lula teria se empenhado pessoalmente na coleta de dinheiro para a engrenagem clandestina, cujos contribuintes tinham algum interesse no governo federal. Tudo corria por fora, sem registros formais, sem deixar nenhum rastro. Muitos empresários, relata Marcos Valério, se reuniam com o presidente, combinavam a contribuição e em seguida despejavam dinheiro no cofre secreto petista. O controle dessa contabilidade cabia ao então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, que é réu no processo do mensalão e começa a ser julgado nos próximos dias pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa. O papel de Delúbio era, além de ajudar na administração da captação, definir o nome dos políticos que deveriam receber os pagamentos determinados pela cúpula do PT, com o aval do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, acusado no processo como o chefe da quadrilha do mensalão: “Dirceu era o braço direito do Lula, um braço que comandava”. Valério diz que, graças a sua proximidade com a cúpula petista no auge do esquema, em 2003 e 2004, teve acesso à contabilidade real. Ele conta que a entrada e a saída de recursos foram registradas minuciosamente em um livro guardado a sete chaves por Delúbio. Pelo seu relato, o restante do dinheiro desse fundão teve destino semelhante ao dos 55 milhões de reais obtidos por meio dos empréstimos fraudulentos tomados pela DNA e pela SMP&B. Foram usados para remunerar correligionários e aliados. Os valores calculados por Valério delineiam um caixa clandestino sem paralelo na política. Ele fala em valores dez vezes maiores que a arrecadação declarada da campanha de Lula nas eleições presidenciais de 2002.      
O presidente
“Lula era o chefe”
PASSADO SOMBRIO – E a tese de que o mensalão não existiu? Valério mostra que Lula não estava sendo fiel aos companheiros, mas tentando salvar a si próprio. Típico.
A ira de Marcos Valério desafia a defesa clássica do ex-presidente Lula de que não sabia do mensalão e nada teve a ver com o esquema arquitetado em seu primeiro mandato. Com a segurança de quem transitava com desenvoltura pelos gabinetes oficiais, inclusive os palacianos, e era considerado um parceiro preferencial pela cúpula petista, Valério afirma que Lula “comandava tudo”. Em sua própria defesa, diz que como operador dos pagamentos não passava de um “boy de luxo” de uma estrutura que tinha o então presidente no topo da cadeia de comando. “Lula era o chefe”, repete Valério às pessoas mais próximas. A afirmação se choca com todas as versões apresentadas por Lula desde que o esquema foi descoberto, em 2005. Primeiro, escudou-se no argumento de que tudo não passou do uso de dinheiro “não contabilizado” que havia sobrado das campanhas políticas, prática suprapartidária e recorrente na política brasileira – não por acaso tem sido essa a estratégia de defesa dos mensaleiros no STF. Num segundo momento, Lula se disse traído e pediu desculpas à nação em rede de televisão.
A rota de fuga de Lula evoluiu mais tarde para a negação completa, com a tese nefelibata de que o mensalão nunca existiu, tendo sido apenas uma armação das elites para abreviar seu mandato. A narrativa de Valério coloca Lula não apenas como sabedor do que se passava, mas no comando da operação. Valério não esconde que se encontrou com Lula diversas vezes no Palácio do Planalto. Ele faz outra revelação: “Do Zé ao Lula era só descer a escada. Isso se faz sem marcar. Ele dizia vamos lá embaixo, vamos”. O Zé é o ex-ministro José Dirceu, cujo gabinete ficava no 4º andar do Palácio do Planalto, um andar acima do gabinete presidencial. A frase famosa e enigmática de José Dirceu no auge do escândalo – “Tudo que eu faço é do conhecimento de Lula” – ganha contornos materiais depois das revelações de Valério sobre os encontros em palácio. Marcos Valério reafirma que Dirceu não pode nem deve ser absolvido pelo Supremo Tribunal, mas faz uma sombria ressalva. “Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”, disse, na semana passada, em Belo Horizonte. Indagado, o ex-presidente não respondeu.
Pacto
“Meu contato era o Okamotto”
O CARA – Presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto funcionava como elo entre Marcos Valério e o PT.
Há menos de dois meses, VEJA revelou a existência de encontros secretos entre Marcos Valério e Paulo Okamotto, petista estrelado que desempenha a tarefa de assessor financeiro, ou tesoureiro, de Lula. Procurado para explicar por que se reunia com o principal operador do mensalão, Okamotto disse que os encontros serviam apenas para discutir política. Não, não era bem assim. Marcos Valério tinha um pacto com o PT, e Paulo Okamotto era o fiador desse pacto. “Eu não falo com todo mundo no PT. O meu contato com o PT era o Paulo Okamotto”, disse Valério em uma conversa reservada dias atrás. É o próprio Valério quem explica a missão de Okamotto: “O papel dele era tentar me acalmar”. O empresário conta que conheceu o Japonês, como o petista é chamado, no ápice do escândalo. Valério diz que, na véspera de seu primeiro depoimento à CPI que investigava o mensalão, Okamotto o procurou. “A conversa foi na casa de uma funcionária minha. Era para dizer o que eu não devia falar na CPI”,relembra.
  O pedido era óbvio. Okamotto queria evitar que Valério implicasse Lula no escândalo. Deu certo durante muito tempo. Em troca do silêncio de Valério, o PT, por intermédio de Okamotto, prometia dinheiro e proteção. A relação se tornaria duradoura, mas nunca foi pacífica. Em momentos de dificuldade, Okamotto era sempre procurado. Quando Valério foi preso pela primeira vez, sua mulher viajou a São Paulo com a filha para falar com Okamotto. Renilda Santiago queria que o assessor de Lula desse um jeito de tirar seu marido da cadeia. Disse que ele estava preso injustamente e que o PT precisava resolver a situação. A reação de Okamotto causa revolta em Valério até hoje. “Ele deu um safanão na minha esposa. Ela foi correndo para o banheiro, chorando.” O empresário jura que nunca recebeu nada do PT. Já a promessa de proteção, segundo Valério, girava em torno de um esforço que o partido faria para retardar o julgamento do mensalão no Supremo e, em último caso, tentar amenizar a sua pena. “Prometeram não exatamente absolver, mas diziam: ‘Vamos segurar, vamos isso, vamos aquilo’… Amenizar”, conta. Por muito tempo, Marcos Valério acreditou que daria certo. Procurado, Okamotto não se pronunciou.
Poder
“O Delúbio dormia no Alvorada”
DE OLHO NO PASSADO – O ex-tesoureiro do PT, acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha, pediu a Valério que arrumasse uma empresa para “receber” dinheiro ilegal.
Dos tempos em que gozava da intimidade do poder em Brasília, Marcos Valério diz guardar muitas lembranças. Algumas revelam a desenvoltura com que personagens centrais do mensalão transitavam no coração do governo Lula antes da eclosão do maior escândalo de corrupção da história política do país. Valério lembra das vezes em que Delúbio Soares, seu interlocutor frequente até a descoberta do esquema, participava de animados encontros à noite no Palácio da Alvorada, que não raro servia de pernoite para o ex-tesoureiro petista. “O Delúbio dormia no Alvorada. Ele e a mulher dele iam jogar baralho com Lula à noite. Alguma vez isso ficou registrado lá dentro? Quando você quer encontrar (alguém), você encontra, e sem registro.” O operador do mensalão deixa transparecer que ele próprio foi a uma dessas reuniões noturnas no Alvorada. Sobre sua aproximação com o PT, Valério conta que, diferentemente do que os petistas dizem há sete anos, ele conheceu Delúbio durante a campanha de 2002. Quem apresentou a ele o petista foi Cristiano Paz, seu ex-sócio, que intermediava uma doação à campanha de Lula. A primeira conversa foi em Belo Horizonte, dentro de um carro, a caminho do Aeroporto da Pampulha. Nessa ocasião, conta, Delúbio lhe pediu ajuda. “Ele precisava de uma empresa para servir de espelho para pegar um dinheiro.” A parceria deu certo e desaguou no mensalão. Hoje, os dois estão no banco dos réus. Valério se sente injustiçado. Especialmente na parte da acusação que diz respeito ao desvio de recursos públicos do Banco do Brasil. Ele jura que esse dinheiro não caiu no caixa da corrupção. “No processo tem todas as notas fiscais que comprovam que esse dinheiro foi gasto com publicidade. Não estou falando que não mereço um tapa na orelha. Não é isso. Concordo em ser condenado por aquilo que eu fiz.”

Empréstimo
“O banco ia emprestar dinheiro para uma agência quebrada?”
Os ministros do STF já consideraram fraudulentos os empréstimos concedidos pelo Banco Rural às agências de publicidade que abasteceram o mensalão. Para Valério, a decisão do Rural de liberar o dinheiro – com garantias fajutas e José Genoino e Delúbio Soares como fiadores – não foi um favor a ele, mas ao governo Lula. “Você acha que chegou lá o Marcos Valério com duas agências quebradas e pediu: ‘Me empresta aí 30 milhões de reais pra eu dar pro PT’? O que um dono de banco ia responder?” Valério se lembra sempre de José Augusto Dumont, então presidente do Rural. “O Zé Augusto, que não era bobo, falou assim: ‘Pra você eu não empresto’. Eu respondi: ‘Vai lá e conversa com o Delúbio’. ” A partir daí a solução foi encaminhada. Os empréstimos, diz Valério, não existiriam sem o aval de Lula e Dirceu. “Se você é um banqueiro, você nega um pedido do presidente da República?” Foram essas mesmas credenciais palacianas, segundo ele, que lhe abriram as portas no Banco Central para interceder pela suspensão da liquidação extrajudicial do Banco Mercantil de Pernambuco, que interessava ao Rural. Valério foi destacado para cuidar do assunto em Brasília. Uma tarefa executada com todas as facilidades e privilégios. “Valério chegou lá no Banco Central e foi atendido. Você acha que o Banco Central receberia um imbecil qualquer, dono de uma agência de publicidade quebrada?”
“Nojento e vexatório”
Hugo Marques
TESTEMUNHA – Lucas Roque, ex-funcionário do Rural: recibos escondidos pelo banco.
Ex-superintendente do Banco Rural em Brasília, Lucas da Silva Roque foi um dos principais colaboradores nas investigações da Polícia Federal destinadas a desbaratar a quadrilha do mensalão. Foi ele quem revelou onde estavam os recibos que mostraram quais políticos receberam dinheiro para votar com o governo Lula no Congresso. Nesta entrevista, Roque conta que pagou um preço alto por agir de forma correta e relata um plano ambicioso urdido pela cúpula da instituição financeira em parceria com José Dirceu. Eles queriam montar um banco popular, do qual Rural e BMG seriam sócios, para conceder empréstimos consignados aos aposentados. Um negócio companheiro e bilionário.
Por que o senhor decidiu ajudar a polícia? Não tinha nada a temer. Não entrei no jogo deles, não sou bandido. Fui mandado para a agência do Rural em Brasília para moralizá-la, porque ali estava uma bagunça. O que estava acontecendo no banco era acintoso, nojento e vexatório. O delegado disse que queria todos os documentos. Apontei onde estavam as caixas. Àquela altura, já estava tudo encaminhado para fazer sumir as provas, mandando-as de Brasília para Minas Gerais. Mostrei onde estavam os documentos e falei para o delegado que procurasse papéis também numa construtora, que servia de almoxarifado do banco.
Como a diretoria reagiu à sua colaboração com a PF? Fui atacado de tudo quanto é jeito. Me colocaram em um porão que não era uma agência bancária, depois em uma loja de shopping que foi fechada por ser irregular. Pior, mandaram me avisar que eu estava proibido de aparecer na diretoria do banco. Isso foi em outubro de 2005. Virei a Geni. Fui demitido em agosto de 2010. Eu, minha esposa e meus filhos fomos achincalhados na rua como mensaleiros. Tive sérios problemas de saúde, perdi meu casamento.
O senhor tinha relação de proximidade com Marcos Valério. Ele disse a algumas pessoas que teve um encontro com Lula na Granja do Torto. Vários encontros. É verdade? Sim, ele deixava para viajar para Belo Horizonte no sábado à noite para passar lá.
Levado por quem? Delúbio Soares, Silvinho Pereira e José Dirceu.
Quais eram os planos da cúpula do Banco Rural e dos petistas? Eles tinham um projeto de montar um banco popular com a CUT. Juntariam o Banco Rural, o BMG, a CUT. Era um projeto com capital de 1 bilhão de reais.
Quem capitaneava esse projeto? Eram os bandidos do mensalão. Como o PT não tinha cultura bancária, o Rural e o BMG seriam sócios. Um banco privado com a participação da CUT, que direcionaria todos os beneficiários do INSS para tomar dinheiro em empréstimos consignados nessa instituição popular. Quando o mensalão estourou, o projeto foi abortado.


Em troca de ganhar fábrica de presente, JBS pagou R$ 27,5 milhões a Cabral


As negociações começaram em 2012

Rio - O ex-governador Sérgio Cabral foi fundamental para o grupo JBS ganhar sem gastar um centavo a fábrica abandonada pela BRF, empreendimento, em Piraí, em junho de 2014, com direito a incentivos fiscais de R$ 1,5 milhão. As negociações começaram em 2012. 
“Só tratei de propina com o Sérgio Cabral”, contou o diretor Ricardo Saud, diretor da JBS, em depoimento à Procuradoria-Geral da República. “Nem nós acreditávamos que conseguiríamos”, revelou Saud. Mas a contrapartida que Cabral queria era de R$ 30 milhões até R$ 40 milhões, valores de propinas considerados altos pelo delator à época, que aceitou pagar em torno de R$ 27,5 milhões. 
Segundo delator, recursos da JBS pedidos como contrapartida por Cabral teriam irrigado campanha de PezãoValter Campanato / Agência Brasil
“Uma parte seria para eleição de Pezão e outra para eleger deputados que Cabral queria”, afirmou Saud, negando que Pezão tenha participado do esquema. Segundo Saud, R$ 20 milhões foram dissimuladas em doações oficiais, além de mais R$ 900 mil destinados para o PDT. 
O partido nega, segundo o RJ-TV, da TV Globo. Outros R$ 7,5 milhões foram em dinheiro vivo, como consta em planilha que consta na investigação. Hudson Braga que foi ex-secretário de estadual de Obras do governo Cabral e coordenador de campanha de Pezão recebeu R$ 5 milhões. 
Hudson e Cabral estão presos desde novembro acusados de montar esquema pagamento de propina que desviou R$ 224 milhões dos cofres públicos. O envolvimento da JBS com a campanha do governador consta na denúncia que levou a cassação da chapa Pezão-Francisco Dornelles, o vice, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Eles recorreram da decisão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O recurso ainda não foi julgado pela Corte. Na documentação que foi entregue por Saud e Joesley Batista, dono da JBS, aos procuradores consta doações para 28 partidos. Só para deputados estaduais do Rio de Janeiro há 13 nomes. Os valores somados ultrapassam a casa dos R$ 3 milhões.


JBS: 70 milhões de dólares para Lula
























E o maior vigarista da política brasileira segue livre ladrando suas lorotas. Até quando?

O dono da JBS, Joesley Batista, disse que transferiu para contas no exterior US$ 70 milhões destinados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais US$ 80 milhões em conta, também no exterior, em benefício da ex-presidente Dilma Rousseff.
Os montantes, afirmou, foram enviados por meio do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e gastos “tudo em campanha”. Joesley falou que tanto Lula quanto Dilma tinham conhecimento dos repasses.
A defesa do ex-presidente Lula afirma “que as afirmações de Joesley Batista em relação a Lula não decorrem de qualquer contato com o ex-presidente, mas sim de supostos diálogos com terceiros, que sequer foram comprovados”. Lula é inocente, ainda segundo nota assinada pelos advogados Cristianio Zanin Martins e Roberto Teixeira. A assessoria da ex-presidente Dilma negou irregularidades, e disse que “são improcedentes e inverídicas as afirmações do empresário”
A declaração foi dada por Joesley em 3 de maio de 2017 na sede da Procuradoria Geral da República, em Brasília. “Teve duas fases, a do presidente Lula e teve a fase da presidente Dilma”, disse. “Na fase do presidente Lula chegou a US$ 80 milhões de dólares, na fase da presidente Dilma chegou a uns US$ 70 [milhões]. Ou ao contrário: US$ 70 [milhões] na do Lula e US$ 80 [milhões] na da Dilma.”
Joesley disse que inicialmente não tinha se dado conta de que os valores eram destinados às campanhas eleitorais de Lula e Dilma. Ele afirma ter percebido quando, ainda segundo ele, Guido pediu a abertura de uma segunda conta, em nome do próprio empresário. “Foi aí a primeira vez que eu desconfiei que o dinheiro não era dele [Guido]”


Lula e Dilma receberam até US$ 150 milhões em propinas, afirma delação da JBS

Ministros, governadores e até o presidente do Senado foram acusados























BRASÍLIA - Além do presidente Michel Temer e do senador Aécio Neves, a delação da JBS envolve os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff , ministros da atual gestão e governadores de estado. No caso dos ex-presidentes, o empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud relataram pagamentos em contas no exterior tanto para Lula quanto para Dilma. O saldo dessas contas em 2014 teria chegado a US$ 150 milhões.
O ex-ministro Guido Mantega seria o intermediário dos pagamentos que eram devidos em razão de esquemas criminosos no BNDES e em fundos de pensão. Em 2010, por intermédio do ex-ministro Antonio Palocci, teria sido feito outro repasse de R$ 30 milhões para a campanha de Dilma.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), foi acusado por Ricardo Saud. Segundo o relato, o peemedebista recebeu R$ 5 milhões pela atuação em uma Medida Provisória que disciplinava créditos de PIS/Cofins.
No caso dos ministros do governo Temer, Gilberto Kassab foi citado como beneficiário de propina por Wesley Batista, irmão de Joesley, e também pelo executivo Ricardo Saud. Em relação a Marcos Pereira, Joesley relatou aos investigadores ter pago propina em troca da aprovação de um empréstimo de R$ 2,7 bilhões para a JBS pela Caixa Econômica.

 A delação que compromete o presidente
Joesley Batista, dono da JBS, fez acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e ajudou a revelar um esquema de pagamento de propinas que envolveu Michel Temer
A JBS É A MAIOR PRODUTORA DE PROTEÍNA ANIMAL DO PLANETA
Joesley negociou pagamentos a políticos em troca de favorecimento para sua empresa, a JBS
GRAVAÇÃO
Joesley gravou Michel Temer em um diálogo onde o presidente indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS).
Joesley também disse a Temer que era necessário manter um bom relacionamento com Eduardo Cunha, inclusive com pagamentos ao operador Lúcio Funaro para que ambos ficassem calados.
Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley
GOVERNADORES
O governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), é citado junto com seu antecessor, André Puccinelli (PMDB), como beneficiário de pagamentos de R$ 150 milhões entre 2007 e 2016 como contrapartida a benefícios fiscais recebidos pelo grupo empresarial. O governador mineiro Fernando Pimentel (PT-MG), foi acusado de receber R$ 3,6 milhões no período em que ocupou o ministério do Desenvolvimento na administração Dilma Rousseff.
O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD-RN), é acusado de ter recebido junto com seu filho, o deputado Fábio Faria (PSD-RN) um pagamento de R$ 5 milhões em propina em troca da privatização da companhia de água e esgoto do estado.
No caso do governador catarinense, Raimundo Colombo (PSD-SC), a acusação é de pagamento de R$ 10 milhões em troca de favorecimento na licitação na companhia de água e esgoto do estado.
São citados como beneficiários os ex-governadores Cid Gomes (PDT-CE), que teria recebido R$ 20 milhões em troca de liberação de créditos de ICMS, Sérgio Cabral (PMDB-RJ), que teria recebido R$ 40 milhões em propina, e Silval Barbosa (PMDB-MT), que recebeu pagamentos em troca de benefícios fiscais à JBS.
SENADORES
Aparecem ainda na delação os senadores José Serra (PSDB-SP), tendo recebido R$ 20 milhões a pretexto de campanha, e Marta Suplicy (PMDB-SP), como beneficiária de R$ 1 milhão em 2010 e R$ 3 milhões em 2014.
Delator da Lava-Jato, Delcídio Amaral foi mencionado como sido beneficiário de propina de R$ 5 milhões em troca de uma concessão, fato que não consta de sua colaboração. Há relatos ainda de pagamentos para o deputado João Bacelar (PR-BA) e para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).