Muro dá
acesso a terraços de residências. Dois portões separam unidade da rua e há
espaço para pouso de helicóptero. Ex-governador e outras 145 presos foram
transferidos para ex-Bep da PM
Rio - O ex-governador
Sérgio Cabral foi transferido ontem com outros 145 presos do Complexo
Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste, para a Cadeia Pública José Frederico
Marques, em Benfica, na Zona Norte. Em sua nova morada funcionava, até 2015, o
Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar — unidade famosa pelas
mordomias concedidas aos internos e desativada após uma juíza da Vara de
Execuções Penais (VEP) ter sido agredida durante vistoria.
De acordo com agentes
penitenciários, o local é mais vulnerável do que o presídio de Bangu, onde os
presos estavam. “Ao contrário de Gericinó, que tem três portarias fortificadas
até chegar aos presídios, no local onde Cabral está só existe um portão para a
rua antes da porta de entrada para a unidade”, afirmou um inspetor, que pediu
anonimato.
Em 2004, criminosos
abriram o portão com o uso de explosivos e entraram no local, que era ainda a
Casa de Custódia de Benfica. Na ocasião, 14 presos foram resgatados. Os
internos restantes realizaram rebelião, que resultou na morte de 34 pessoas.
Como o pátio do estacionamento é grande houve espaço para um helicóptero, que
conduzia o pastor Marcos Pereira, pousar. Agentes que trabalham no local
souberam da transferência do ex-governador só ontem e afirmaram que a cadeia não
oferece segurança. “É mais do que um absurdo o Cabral estar aqui. Ele tinha que
estar junto com o Fernandinho Beira-Mar em um presídio de segurança máxima”,
opinou um agente.
Tentativas de evitar a
transferência de Cabral e de outros presos das operações Lava Jato e Calicute
para o antigo BEP não faltaram. O promotor André Guilherme Freitas, Execução
Penal, entrou com uma ação popular em março solicitando que a transferência
fosse suspensa. Freitas já tinha pedido antes a mudança de custódia de Cabral
para Curitiba, após constatar que ele recebia visitas irregulares.
Na ação, o promotor
sustentou que a cadeia “possui estrutura diferenciada e deficitária, com maior
dificuldade de fiscalização (...) São presumíveis e evidentes vantagens
ilícitas que serão viabilizadas aos futuros internos”. Ele chegou a chamar a
unidade de “presídio vip da Lava Jato”. Na semana passada, uma cópia da ação
popular foi enviada à VEP que determinou, em seguida, que câmeras fossem
instaladas. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) acatou a ordem.
Apesar da reforma de R$
26 mil no presídio para receber os novos internos, não houve obras externas
para reforço da segurança.
O chão do pátio do
banho de sol é de areia, que possibilita a ocultação de objetos. Somente um
muro o separa da rua. A escada em que os presos transitam é externa, sendo
apenas gradeada. Do topo da escada, é possível acessar o teto da unidade que,
por sua vez, dá acesso à via pública. Além disso, ao lado de um dos muros há
residências. Em 2014, o miliciano Carlos Ribeiro fugiu após pular para o teto
de uma igreja, colado com o muro do então Bep.
Nova ala tem três galerias com 162 vagas
A cela onde Cabral está
custodiado fica no segundo piso da unidade e tem 16 metros quadrados. A nova
ala tem 162 vagas: são três galerias com nove celas cada uma. Cada cela tem
capacidade para três beliches e possui colchões que foram usados por atletas
nos Jogos Olímpicos. Ontem foram levados para lá 53 presos com curso superior,
incluindo Cabral e outros alvos da Lava Jato, além de 93 que não pagaram pensão
alimentícia.
No local, cada detento
também terá direito a uma tomada, poderá levar ventilador e terá espaço
equipado para TV de, no máximo, 14 polegadas. A cela tem banheiro com vaso
sanitário, pia e chuveiro.
Na reforma, foi
utilizada verba do Fundo Especial Penitenciário e mão de obra de presos de
regime semiaberto. De acordo com a Seap, 53 câmeras irão monitorar a unidade.
Vizinhos da cadeia reclamam
“O
dinheiro que gastaram na reforma desse presídio para receber o Cabral deveria
ser gasto com a saúde que está falida no estado”, disse Maria da Paz, 60 anos,
comerciante e moradora de Benfica e vizinha da cadeia desde 1985.
João Brás, 62, tecelão,
acredita que Cabral terá regalias. “É uma falta de respeito com a sociedade.
Ele roubou tanto, acabou com o estado e agora vem pra cá. Aqui ele terá uma
mordomia imensa”, opinou.
A mesma opinião possui
Adriana Cunha, 46. “Moro em Benfica há anos. Cabral vai comer e beber de graça
e vai continuar a gastar o dinheiro do pobre trabalhador que ele roubou”,
disse. “É tão ladrão como um traficante. Sou funcionária pública e estou há
três meses sem receber”, reclama Tereza Cristina Amorim, 53.
Fonte: Jornal O Dia
Fonte: Jornal O Dia
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