Cabral discursou contra fraude em dia de depósito de propina para ele
Para ex-governador, lavagem de dinheiro deveria ser combatida

RIO - O discurso de Sérgio Cabral, então governador do Rio, foi enfático: os jogos de azar poderiam ser legalizados no Brasil, desde que fossem criados mecanismos de combate à lavagem de dinheiro. Por uma ironia, uma transferência bancária feita naquela mesma quinta-feira, 8 de setembro de 2011, foi usada como prova contra Cabral. Na sexta-feira, ele se tornou réu pelo crime com o qual se mostrava preocupado.
O jogo no Brasil, se aberto e legalizado, poderia ser uma fonte de financiamento importante para vários setores. Bastaria criar instrumentos para coibir a lavagem de dinheiro, fazendo com que os recursos pudessem entrar formalmente nos tesouros nacional, estadual e municipal — defendeu Cabral, durante a inauguração da nova sede da Loterj.
Ao lado da mulher, Adriana Ancelmo — também ré e presa por lavagem de dinheiro —, o então governador posou para fotos segurando um cheque de R$ 1,5 milhão, valor que seria doado para o Hospital Pro Criança Cardíaca. Enquanto isso, US$ 4,6 milhões eram despejados em uma conta no Uruguai controlada pelos doleiros Marcelo e Renato Chebar.
Segundo o Ministério Público Federal, Cabral era o verdadeiro destinatário do dinheiro. A transferência partiu de uma conta no Panamá do empresário Eike Batista, acusado de pagar US$ 16,5 milhões em propina para o ex-governador em 2011. Dois anos depois, Cabral recebeu mais R$ 1 milhão de Eike, desta vez por meio do escritório de advocacia de Adriana Ancelmo.



PF vê indícios de propina a Pezão e sugere envio ao STJ

A Polícia Federal apontou em relatório indícios de que o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), recebeu propina do esquema que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), era comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). O nome do governador consta em anotações manuscritas encontradas durante busca e apreensão na casa de Luiz Carlos Bezerra, apontado como um dos operadores de Cabral. No relatório, encaminhado nesta quinta-feira à 7ª Vara Federal Criminal do Rio, a PF sugere o envio das informações ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), já que Pezão tem foro privilegiado.

De acordo com a PF, Pezão estaria ligado a repasses de propina de R$ 140 mil e um outro de R$ 50 mil.
“Apesar de ainda não terminada a análise do material (outras pessoas recebedoras de valores estão sendo identificadas), é certo que foi identificado como recebedor de valores o Sr. Luiz Fernando Pezão, governador do estado do Rio de Janeiro (ainda que nesse momento haja decisão do TRE pelo seu afastamento) sendo necessário que, salvo melhor juízo, Vossa Excelência, após parecer ministerial, possa submeter tais itens ao foro competente (STJ) para proceder a investigação em face do mesmo”, aponta o delegado Antonio Carlos Beaubrun, que coloca a PF à disposição para novos esclarecimentos.
Em nota, o governador afirmou que continua à disposição da Justiça para prestar todos os esclarecimentos a respeito das investigações. Pezão ressaltou "que suas contas já foram analisadas em processos anteriores da Polícia Federal, e estes foram arquivados". O governador se refere a um pedido de arquivamento feito pela PF do inquérito que ele e Cabral respondem no STJ no âmbito da Operação Lava-Jato. O órgão não conseguiu confirmar as suspeitas de que Pezão e Cabral teriam recebido dinheiro do esquema de corrupção na Petrobras.
As anotações são, de acordo com a PF, relativas à distribuição de valores oriundos de propinas recebidas por Cabral. Cinco delas fazem referência a valores de R$ 140 mil e uma sexta a R$ 50 mil ligados ao nome de Pezão.
Na primeira delas, a PF fala sobre uma possível referência à propina de R$ 140 mil paga a Pezão no dia 20. Nesse manuscrito, aparece o número "140.000" e, ao lado, a palavra "Pé". Não há, no entanto, dados sobre o ano ou o mês. Em outro apontamento, cujo título é "Saída 2/14", Bezerra escreveu "p/ sair" e abaixo aparecem alguns valores e nomes, entre eles o número "140.000" ao lado da palavra "Pezão?".

Uma outra anotação, com o título de "Saída 1/14", aparece novamente o número "140.000" ao lado da palavra "Pé". Essa mesma referência consta em outro bilhete, com o título "janeiro", e em outro em que há ao lado do valor o apontamento "20/1". Em uma das anotações apreendidas pela PF, aparece um valor diferente: R$ 50 mil, ao lado do nome de Pezão.
Em alguns desses bilhetes, constam os apelidos "Big" e "Susi". Em documentos da Operação Calicute, o MPF afirma que Susi é uma referência à ex-mulher de Cabral, Susana Cabral, e Big é Sérgio de Castro Oliveira, apontado como um dos operadores do ex-governador. Susana foi levada coercitivamente para depor durante a deflagração da Operação Eficiência, no dia 26 de janeiro. Na mesma data, Sérgio de Castro Oliveira foi preso. Os dois foram indiciados pela PF esta semana, ele por lavagem de dinheiro e organização criminosa e ela apenas por lavagem de dinheiro.
Luiz Carlos Bezerra está preso no Complexo de Gericinó desde a deflagração da Operação Calicute, em novembro do ano passado. Na ação, também foram presos Cabral e os ex-secretários de Obras Hudson Braga e de Governo Wilson Carlos. De acordo com as investigações, Bezerra era homem de confiança do ex-governador e foi identificado como a pessoa que fazia o manejo de valores e acertos para a organização criminosa. Ainda segundo os investigadores, era Bezerra quem gerenciava as despesas de Sérgio Cabral e da família dele.

Além dos problemas financeiros do estado, Pezão teve o mandato cassado ontem pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), mas pode ficar no cargo até decisão final do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em entrevista ao GLOBO, o governador disse que “não tem plano B” para a crise no estado caso não consiga a liminar no Supremo Tribunal Federal. Sem ela, o estado não consegue driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e usar empréstimos para quitar salários e o décimo-terceiro dos servidores. A Advocacia Geral da União (AGU) se manifestou ao STF ser contrária à liminar que beneficiaria o Rio.



Em outra anotação encontrada na casa de Bezerra, o nome do governador aparece vinculado ao valor de R$ 50 mil - Reprodução
Anotações encontradas na casa de Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador de Cabral. De acordo com a PF, Pé, ao lado do valor de R$ 140 mil, é uma referência a Pezão e o valor da propina - Reprodução




Maior doador da campanha de Pezão, JBS ganhou área de fábrica em Barra Mansa

Agora começam a aparecer as razões das isenções fiscais e outras “bondades” feitas de forma irresponsável pelo pilantra que pertence à mesma quadrilha de Cabral e naturalmente é da mesma estirpe. O rabo preso lá atrás começa a aparecer. E não adianta apenas tirar o meliante do pé grande e deixar cair nas mãos do mafioso da ALERJ, a Lava Jato tem que agir e tirar essa quadrilha toda do poder para que o Estado tenha alguma chance de recuperação.
Antes que o povo do Rio de Janeiro, cansado de pagar a conta do roubo desses ladrões resolva restabelecer a normalidade na marra!

Empresa foi beneficiada com isenções concedidas desde o início do governo Cabral, preso pela Operação Calicute

Rio - Uma das principais denúncias da ação que cassou a chapa Pezão-Dornelles, enviada ao TRE pelo deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), envolve a gigantesca JBS S.A, do ramo de alimentos. Maior doadora dentre as empresas acusadas no documento, ela foi presenteada, em junho de 2014, com um empréstimo por 30 anos de grande área em Barra do Piraí, no Sul Fluminense.
A Vigor, empresa de laticínios da subsidiária J&F, assumiu naquela cidade, bem perto da Piraí de Pezão, o terreno de uma indústria abandonada pela BRF, empreendimento concorrente. A JBS doou R$ 6,6 milhões para a campanha — destinados ao Comitê Financeiro Único do PMDB do Rio. 
Somando ao pleito de 2014 as eleições de 2010 e 2012, as doações da JBS ao PMDB passam de R$ 22 milhões. E, além do terreno em Barra do Piraí, a empresa também foi uma das beneficiárias das polêmicas isenções fiscais concedidas desde o início do governo de Sérgio Cabral (PMDB), hoje preso pela Operação Calicute.
De 2008 a 2013, segundo levantamento feito pelo Psol de Freixo, ela recebeu R$ 1.5 milhão em benefícios fiscais. E não foi a única das empresas investigadas a conseguir isenções.


A OAS, que doou R$ 5,9 milhões nos três pleitos em questão, recebeu nada mais nada menos que R$ 109,8 milhões em benefícios. A Ipe Engenharia, responsável por doar R$ 1,5 milhão, ficou com R$ 122,9 milhões na lista das isenções da Era PMDB. 
Também têm as empreiteiras mais ‘discretas’, como a Queiroz Galvão. Doadora de R$ 1,9 milhão, obteve R$ 839,7 mil em isenções. “Na verdade, fica claro, na chapa de Pezão e Dornelles, acordos para contratos. Há também que prestar atenção nas isenções fiscais. Muitas das empresas receberam mais do que doaram e estão na Lava Jato. Tem até doação do Banco Safra”, indicou a advogada do Psol Samara Castro, que atua no processo.
Um dos desdobramentos da Lava Jato no Rio de Janeiro levou para prisão o ex-governador Sérgio Cabral, ex-integrantes do governo e aliados de Pezão na caminhada rumo à reeleição para o Palácio Guanabara. Um deles é o ex-secretário de Obras Hudson Braga, que coordenou a campanha eleitoral do atual governador.
Governador foi pressionado a suspender concessões

A concessão de isenções ficais se transformou em alvo de polêmica no governo Pezão. O governador sofreu pressão tanto da Assembleia Legislativa (Alerj) quanto do Poder Judiciário para suspender as concessões. Em outubro, o juiz Marcelo Martins Evaristo da Silva, da 3ª Vara de Fazenda Pública, proibiu o governo estadual de conceder, ampliar ou renovar benefícios fiscais ou financeiros. O pedido foi feito pelo Ministério Público do estado. O órgão sustentou que a concessão dos benefícios quebrou o equilíbrio fiscal do estado. 
Houve ainda mais confusão porque o governo enviou o projeto de lei orçamentária à Alerj com previsão de mais R$ 33 bilhões em isenções para os próximos três anos. Só em 2017, seriam R$ 11 bilhões. Em dezembro foi batido o martelo. O governo do Rio está proibido de conceder novos incentivos e benefícios fiscais de natureza tributária a empresas pelo período dos próximos dois anos. 
A norma, estabelecida pela Lei 7.495/16, foi sancionada, à época, pelo governador Luiz Fernando Pezão. No entanto, as empresas enquadradas em isenções já em vigor permanecem com seus direitos, inclusive com a hipótese de renovação dos benefícios, desde que aprovados por lei ou pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

O Tribunal de Contas do Estado também investiga os benefícios. Só no ano passado, segundo relatório do conselheiro do órgão José Graciosa, o governo deixou de arrecadar R$ 9,3 bilhões. O documento coloca ainda sob suspeita a renúncia fiscal de R$ 47 bilhões contabilizada Secretaria de Fazenda nos últimos nove anos.
Pedido de impeachment protocolado
Mais problemas com a Justiça aguardam Luiz Fernando Pezão. No mês passado, o Conselho Superior do Ministério Público autorizou que o órgão entre como uma ação de improbidade administrativa contra o governador. O pedido foi feito pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) em junho de 2015. Pezão é acusado de não aplicar R$ 1,4 bilhão na Saúde.
O caso está nas mãos do procurador decano Ricardo Ribeiro Martins, que votou pela abertura da ação. Caso Pezão seja considerado réu, a movimentação pelo impeachment do governador ganharia força na Alerj, já que violar a ‘probidade na administração’ pode ser considerado crime de responsabilidade. 
O Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe) protocolou no Parlamento o pedido de impeachment de Pezão e do vice-governador, Francisco Dornelles.


TRE-RJ cassa mandato de Pezão e determina novas eleições; cabe recurso
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que teve o mandato cassado

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que teve o mandato cassado
O TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) cassou nesta quarta-feira (8) os mandatos do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do vice-governador, Francisco Dornelles (PP), por abuso de poder econômico e político. Como ainda cabe recurso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a decisão não tem efeito por enquanto.
A cassação, caso confirmada pelo TSE, deixa Pezão e Dornelles inelegíveis por oito anos. O TRE-RJ determinou ainda que sejam realizadas eleições diretas para a chefia do Executivo do Estado. 

Francisco Dornelles, vice-governador do Rio

A decisão do tribunal regional foi por maioria dos votos. Segundo nota divulgada pelo órgão, "o abuso de poder econômico e político ficou configurado uma vez que o Governo do Estado do Rio de Janeiro concedeu benefícios financeiros a empresas como contrapartida a posteriores doações para a campanha do então candidato Pezão e de seu vice".
Em seu voto, o desembargador Marco Couto afirmou que "restou comprovado que contratos administrativos milionários foram celebrados em troca de doação de campanha".
Em nota, a assessoria de imprensa do governo do Rio informou que, "quando for publicada a decisão, o governador Luiz Fernando Pezão e o vice-governador Francisco Dornelles vão entrar com recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)."
Rio em crise
A decisão do TRE-RJ é mais um baque no governo de Pezão. Ele assumiu em abril de 2014, depois que Sérgio Cabral (PMDB) renunciou para que o então vice disputasse a eleição no cargo. Foi eleito no segundo turno, vencendo o então senador e hoje prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB).
Pezão foi vice nos dois mandatos de Cabral -que está preso desde dezembro sob suspeita de receber propina de empreiteiras. Hoje, o governador comanda um Estado em profunda crise econômica e palco de frequentes protestos de servidores públicos, que estão com salários atrasados.
Além de atrasar os pagamentos, o governo quer, para conter gastos, que os servidores aumentem a contribuição para a previdência de 11% para 22%.
Esta quarta, o governo do Rio garantiu o pagamento dos salários dos servidores da segurança no dia 14 e com reajuste de até 10,22%, tudo para evitar um possível motim na área de segurança. No pacote de ajuste fiscal para o Estado anunciado no fim do ano passado, o governo previa adiar o pagamento dos reajustes da categoria para 2020.
Em dezembro, os servidores da segurança engrossaram o ato dos professores e demais servidores públicos e chegaram a invadir a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) durante a votação do pacote de austeridade enviado à Casa por Pezão.
Na terça (7), servidores do Estado voltaram a protestar na porta da Alerj. Centenas de participantes, a maioria de servidores da Cedae (a companhia de água e esgoto do Estado), foram contra colocar em discussão a privatização da companhia e os demais itens do pacote de medidas anunciadas pelo governo do estado para combater a crise financeira. Na semana passada, houve tumulto em manifestação no mesmo local.
Para pressionar o governo, servidores da Cedae decretaram greve por 72 horas a partir desta terça. Somente 30% dos funcionários estão trabalhando em ocorrências de falta d'água e grandes vazamentos, segundo o SintSama (Sindicato dos trabalhadores das empresas de saneamento básico do Rio de Janeiro). Funcionários da companhia fizeram novo protesto hoje.
A venda da companhia de saneamento é uma das manobras do governo para tentar contornar a crise. Ela faz parte do acordo com a União, que prevê a suspensão do pagamento de dívidas do Estado com bancos federais durante três anos e o empréstimo de R$ 3,5 bilhões para o Rio de Janeiro.
Em meio a toda essa crise, Pezão ainda se viu obrigado a ficar licenciado durante sete meses no ano passado para tratar de um câncer no sistema linfático. Durante o período, foi substituído interinamente por Dornelles. 

"Teve um efeito suspensivo, o TRE manteve ele no cargo (...) [Pezão] Vai recorrer e a gente espera que ele tenha sucesso para o bem do Rio de Janeiro", declarou o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj) e aliado de Pezão, Jorge Picciani, em entrevista ao RJTV. Pezão e Dornelles informaram que vão recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assim que for publicada a decisão – eles têm três dias para entrar com o recurso. Segundo as assessorias de imprensa do TRE e do governo do estado, até que o recurso seja julgado em Brasília governador e vice podem permanecer no cargo.