PF apreende malas com dinheiro e relógios com o vice-presidente da Guiné Equatorial


Fortuna avaliada em US$ 16 milhões estava nas bagagens no avião dele que pousou no aeroporto de Viracopos, em Campinas. Embaixada diz que relógios eram de uso pessoal de filho de ditador.
A Polícia Federal apreendeu uma verdadeira fortuna em dinheiro e joias dentro de malas que estavam com o vice-presidente da Guiné Equatorial, que chegou sexta-feira (14) ao Brasil.
Lula: a ponte entre empreiteiros e o ditador da Guiné Equatorial
Nova fase da Lava Jato revela que ex-presidente resolveu impasse enfrentado por executivos da OAS envolvendo financiamento, em troca de favores, de carnaval do bloco baiano Ilê Aiyê, cujo tema era o país africano.
O avião dele pousou em Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo, com mais de US$ 16 milhões não declarados à Receita.
A comitiva o vice-presidente da Guiné Equatorial continua hospedada em Campinas e a aeronave permanece parada no Aeroporto Internacional de Viracopos. No avião vieram 11 pessoas, entre elas o vice-presidente da Guiné Equatorial,Teodoro Obiang Mangue.
A confusão começou assim que a aeronave pousou, na manhã de sexta-feira (14). Segundo informações de um auditor fiscal, o avião passou por uma inspeção e logo na sequência os funcionários do vice-presidente precisariam passar pelo procedimento de raio-x, porque só o vice-presidente é que tem a imunidade diplomática.
Só que hora na passar o raio-x na bagagem dos funcionários começou uma estranha e inusitada negociação, que durou quatro horas, para que eles pudessem finalmente abrir suas malas, e aí a Polícia Federal pôde encontrar e identificar todo o dinheiro que ele estava carregando, mais os relógios.
Segundo informações desse auditor, assim que isso aconteceu, eles foram levados para uma sala da Polícia Federal e tiveram que prestar depoimento. Um funcionário do vice-presidente, disse, em depoimento, que não sabia o que tinha dentro das malas e que a única informação que ele tinha era que o vice-presidente veio fazer um tratamento médico no Brasil.
O Itamaraty está em contato com a Receita Federal e com a Polícia Federal, mas disse que não vai se manifestar.

Os 11 passageiros passaram quatro horas na sala da Polícia Federal no aeroporto para prestar esclarecimentos. Só depois todos foram liberados e estão num hotel em Campinas.
Troca de mensagens interceptadas pela Polícia Federal entre executivos da OAS revelam as relações próximas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e algumas das maiores empreiteiras do país na obtenção de contratos de obras públicas em países da África e na América Latina. Um caso emblemático revelado na 14ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta-feira, é o das negociações com o ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, que governa o país a mão de ferro há 35 anos. Trata-se do mesmo governante que financiou, ao menos em parte, o desfile da escola de samba Beija Flor, campeã do carnaval 2015 do Rio de Janeiro com enredo em homenagem ao país africano – o patrocínio, afirmou na época um representante da Guiné Equatorial, foi iniciativa de empresas brasileiras que atuam no país.
Na revista das bagagens, a polícia do aeroporto encontrou US$ 1,5 milhão e R$ 55 mil em dinheiro, além de relógios avaliados em US$ 15 milhões.
Teodoro Obiang Mangue é o filho mais velho do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Mbasogo. Ele é vice-presidente desde 2016. Antes, foi ministro da Agricultura e responsável pela defesa do país. O pai dele é ditador da Guiné Equatorial há 35 anos.
Teodoro Mbasogo é o chefe de estado africano que está há mais tempo no poder e o oitavo governante mais rico do mundo, segundo a revista "Forbes". A Guiné Equatorial fica na África Ocidental e é o terceiro maior produtor de petróleo da África, mas a população é miserável.
O presidente da Guiné Equatorial já esteve outras vezes no Brasil. Ele é conhecido pelos gastos elevados com festas.

 Segundo o teor das mensagens, o ex-presidente Lula “entrou em campo” para solucionar o impasse. Os relatos evidenciam que Lula era tão amigo do ditador a ponto de ser o único a acolher o filho-enxaqueca de Obiang, Teodorín, envolvido em diversas denúncias de lavagem de dinheiro mundo afora. “Falei com o Brahma. Contou-me que quem esteve aqui com ele foi o presidente da Guiné Equatorial, pedindo-lhe apoio sobre o problema do filho. Falou também que está indo com a Camargo (Corrêa) para Moçambique x hidrelétrica x África do Sul”, relata Pinheiro, em uma mensagem datada de outubro. Brahma era o apelido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a PF. O assunto voltou à tona no mês seguinte em outra mensagem do então presidente da OAS: “Deixa acabar as eleições para marcarmos. Ele me falou que o nosso amigo da Guiné veio só para pedir apoio ao filho. Me disse que foi um apelo de pai e que ninguém o atende. Somente o nosso Brahma lhe deu acolhida e entrou em campo para ajudá-lo”. O Carnaval do Ilê Aiyê ocorreu e teve a Guinê como homenageada. Se a OAS pagou a conta sozinha, ainda é um mistério.
A relação estreita entre Lula e o ditador não é novidade. Em uma visita oficial em 2010, o ex-presidente assinou cinco acordos de cooperação com Teodoro. Não à toa. Apesar de o chefe africano ser acusado de perseguição a opositores e corrupção, o país é o terceiro maior produtor de petróleo do continente africano. Lula chegou, inclusive, a defender que o país fosse incorporado a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – a terceira língua oficial da Guiné Equatorial é o português, depois do francês e do espanhol.
O patrocício à Beija Flor foi estimado em 10 milhões de reais. A generosa soma remetida à escola de samba originou críticas no Brasil, sobretudo porque grande parte da população da Guiné Equatorial vive na extrema miséria e sofre com a fome e a repressão. As construtoras, no entanto, negaram a informação de que financiaram o desfile da campeã.
A proximidade entre o governo da Guiné e a OAS evoluiu a tal ponto que o presidente da empreiteira chegou a salvar o filho do ditador da extradição. Em fevereiro de 2013, Teodorín aproveitava o carnaval no Rio, quando o governo francês pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) sua extradição, por acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. Na ocasião, 17 carros de luxo de propriedade de Teodorín foram apreendidos no país europeu. No entanto, ele saiu do Brasil antes que o Supremo julgasse o pedido feito pela França. Pelas mensagens inteceptadas na Operação Lava Jato, fica claro de quem veio a ‘mãozinha’: “Nós avisamos a Teodorín na quarta-feira e ele deixou o Brasil. Como a França pediu ao governo brasileiro a extradição dele, havia o risco de ele ficar impedido de deixar o Brasil. Isto é mal para os negócios brasileiros lá. Vamos ver como fica a viagem de Dilma”, diz Pinheiro.
Em 2010, o então presidente Lula visitou a Guiné Equatorial. Ele foi criticado por apoiar uma ditadura. O governo justificou que era uma viagem de negócios.
Em 2015, foi o ditador da Guiné Equatorial que se envolveu numa polêmica, depois que o país virou enredo do carnaval da Beija-Flor. Teodoro Mbasogo negou que tenha dado US$ 10 milhões para patrocinar o desfile e informou apenas que apoiou a iniciativa de empresas brasileiras que mantêm operações no país.
Na época, o presidente da Beija-Flor, Farid Abrahão David, confirmou que a agremiação recebeu ajuda de empresas brasileiras, mas não informou de onde vieram as doações e nem qual foi o valor recebido.
A Polícia Federal ouviu o secretário da embaixada da Guiné Equatorial no Brasil, Leminio Mikue, que estava no aeroporto de Viracopos, em São Paulo, para recepcionar o vice-presidente.
Ele disse que Teodoro Mangue veio ao Brasil fazer um tratamento médico e que daqui seguiria para Singapura, em missão oficial.

O secretário disse que os relógios são de uso pessoal do vice-presidente e que o dinheiro em espécie seria para a missão oficial em Singapura. Ele não soube, no entanto, explicar que missão seria essa.

PF DESCOBRE PLANO DO TERRORISTA SUICIDA !

RETALHOS


Lewandowski paralisa julgamento em que Lula perdia por 7 a 1; caso sai do plenário virtual e vai começar de novo no presencial


             O ministro Ricardo Lewandowski durante sessão da 2ª turma do STF


No recurso, a defesa de Lula pediu que o Supremo considere inadequada a ordem de prisão porque o juiz não indicou os motivos para a necessidade de prender o ex-presidente.
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu "vista" nesta sexta-feira (14) de um recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a prisão após condenação em segunda instância – pedir vista, no jargão jurídico, significa que o ministro quer mais tempo para estudar o caso.
O julgamento do recurso estava sendo decidido no plenário virtual (no qual os ministros votam pelo computador). Com o pedido de Lewandowski, será transferido para o plenário físico, onde os ministros se reúnem presencialmente.
No plenário físico, o julgamento começará de novo – todos os ministros votarão, inclusive os que já tinham se posicionado no plenário virtual. Estes poderão manter ou modificar o voto.
Antes do pedido de vista, o placar estava 7 a 1 contra o recurso. Se no novo julgamento o recurso for aceito, Lula, preso desde abril em Curitiba, ganha liberdade.
Quem determinará a data do novo julgamento é o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, que tomou posse nesta quinta (13).
A votação eletrônica no plenário virtual começou no último dia 7. O prazo para conclusão se encerraria às 23h59 desta sexta-feira. Faltavam os votos dos ministros Luiz Fux, Celso de Mello e do próprio Lewandowski.

COMO VOTARAM OS MINISTROS NO PLENÁRIO VIRTUAL
Contra o recurso
A favor do recurso
Edson Fachin
Marco Aurélio Mello
Cármen Lúcia
Alexandre de Moraes
Dias Toffoli
Luís Roberto Barroso
Rosa Weber
Gilmar Mendes
Fonte: STF
Lewandowski informou que pediu vista diante da divergência apresentada pelo ministro Marco Aurélio Mello, o único a se manifestar contra a manutenção da prisão.
No recurso, a defesa de Lula pediu que o Supremo considere inadequada a ordem de prisão porque o juiz não indicou os motivos para a necessidade de prender o ex-presidente.
No entendimento dos advogados, a prisão em segunda instância foi permitida, mas não pode ser automática, já que os juízes precisariam esclarecer as razões para prender alguém enquanto ainda houver recurso pendente de julgamento.
O relator do caso, ministro Luiz Edson Fachin, enviou o processo para julgamento no plenário virtual por considerar que não há mais necessidade de discussão do assunto porque o STF já consolidou o entendimento de que é possível executar a pena de prisão a partir da condenação confirmada por tribunal de segunda instância.
Lula foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) – um tribunal de segunda instância – a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.
O ministro Marco Aurélio Mello, único a votar a favor da liberdade de Lula, entendeu que o ex-presidente não poderia ter sido preso sem que o juiz justificasse a necessidade da prisão.
"Procede a irresignação, considerada a omissão verificada, ante o fato de a ordem de prisão ter sido implementada automaticamente, a partir do esgotamento da jurisdição em segunda instância, sem fundamentação adicional sobre a adequação da medida no caso concreto."