Tribunal nada fez sobre processos 

que apontaram irregularidades nas 

obras do Maracanã

Reparo. O Maracanã em obras para a Copa de 2014: dois dos 22 processos instaurados no TCE pedem, com base em auditorias, o estorno de R$ 93 milhões pagos indevidamente ao consórcio responsável pela reforma do estádio

O TCE engavetou por quase 6 anos 21 processos sobre a reforma do Maracanã, apesar de constatados repasses indevidos de R$ 93 milhões às empreiteiras, contam JULIANA CASTRO e CHICO OTAVIO. Com a obra na mira da Lava-Jato, os processos deverão ser retomados. Enquanto o Ministério Público Federal (MPF) inicia no Rio investigações sobre suspeitas de corrupção na reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, motivadas por delações da Operação Lava-Jato, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) mantém parados 21 dos 22 processos relativos à obra no estádio, do período entre 2010 e 2014. Só agora, quase seis anos depois que os primeiros processos foram instaurados, o TCE procura desengavetá-los.
Os processos levantam dúvidas, cobram esclarecimentos e apontam irregularidades nas obras. Dois deles pedem, com base em auditorias, o estorno de repasses indevidos ao consórcio responsável, formado pela Odebrecht e pela Andrade Gutierrez, no valor total de R$ 93 milhões. Porém, como o contrato da obra já foi encerrado com o pagamento integral às empresas, a medida pode ter perdido a eficácia.
DELATORES DENUNCIARAM PROPINA A reforma do Complexo do Maracanã para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo de 2014 deveria ter custado ao governo fluminense R$ 705 milhões, mas o acolhimento de 16 termos aditivos, após a assinatura do contrato, elevou o valor para R$ 1,2 bilhão. Em delação premiada ao MPF, dois exdirigentes da Andrade Gutierrez, Rogério Nora Sá e Clóvis Peixoto Numa, denunciaram que o então governador Sergio Cabral (PMDB) cobrou o pagamento de 5% do valor total do contrato para permitir que a empresa se associasse à Odebrecht e à Delta — que saiu antes da conclusão da obra — no “Consórcio Maracanã Rio 2014”, que disputaria a concorrência em 2010.
Dos 22 processos abertos pelo TCE para auditar a obra, apenas um chegou ao fim: o que aprovou o edital de licitação em junho de 2010. Os demais — um sobre o contrato, 16 sobre os aditivos e quatro sobre auditorias na obra, instaurados entre setembro de 2010 e maio de 2014 — ficaram travados na burocracia interna do tribunal. Entre outras conclusões, os auditores constataram a medição e a atestação de serviços com sobrepreço, como o reforço estrutural das novas rampas de acesso ao estádio e a instalação da estrutura metálica das arquibancadas.
Preocupados com o interesse dos investigadores na obra, que deverá ser alvo de uma força-tarefa criada recentemente no Rio, os conselheiros do TCE decidiram fazer os processos andarem. A primeira providência, publicada no Diário Oficial da última quinta-feira, foi unificar a relatoria nas mãos do conselheiro José Graciosa, uma vez que os 21 casos estavam distribuídos para relatores diversos e pelo menos oito deles estavam sem relator — um relator que se aposentou e outro que morreu, por exemplo, não foram substituídos.
Graciosa, porém, só poderá levar o voto ao plenário em 15 dias, prazo legal para a convocação de uma pauta especial. Isso porque a Odebrecht e a Andrade Gutierrez entraram com embargos de declaração — instrumento jurídico pelo qual uma das partes de um processo judicial pede ao tribunal que esclareça determinado aspecto de uma decisão proferida quando há alguma dúvida, omissão, contradição ou obscuridade. Neste caso, a lei exige uma pauta especial convocada em 15 dias. Os embargos de declaração foram interpostos em uma das auditoria; isso há mais de dois anos.
Embora o trecho divulgado sobre a delação premiada dos ex-dirigentes da Andrade Gutierrez se refira apenas ao governador, o papel do TCE na fiscalização da obra deverá entrar no horizonte da força-tarefa do MPF, cujo objetivo é apurar os desdobramentos da Lava-Jato no Rio. Em Brasília, já existe uma investigação em andamento, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sobre as obras das gestões do governador Luiz Fernando Pezão e o antecessor, Sergio Cabral, financiadas com dinheiro do governo federal. A Polícia Federal chegou a pedir o arquivamento, alegando não ter conseguido colher provas suficientes, mas o ministro-relator, Luís Felipe Salomão, preferiu oferecer vista à Procuradoria Geral da República antes de decidir.
TCE ALEGA ALTA COMPLEXIDADE Em média, o TCE leva cinco meses para decidir um processo. Questionada sobre a demora na conclusão dos processos relativos à reforma do Maracanã, a assessoria de comunicação do tribunal afirmou que a análise de casos relacionados a serviços de alta complexidade técnica e grande repercussão financeira demanda “longas e minuciosas verificações”. Disse que, devido à complexidade da matéria e do número de agentes envolvidos, recebeu uma série de documentos em resposta às diversas notificações. De acordo com a assessoria, a análise após o pagamento da obra não é ineficaz, pois o tribunal pode aplicar pena de imputação de débito, ou seja, determinar que os responsáveis devolvam os valores recebidos indevidamente.
Procuradas, as construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez informaram que não comentariam o caso. Por meio de sua assessoria, o ex-governador Sergio Cabral disse que “a licitação e o acompanhamento das obras de reforma do Maracanã para o atendimento das exigências da Fifa para a realização de jogos da Copa das Confederações 2013 e da Copa do Mundo 2014 foram realizados pela Secretaria de Obras do Governo do estado, órgão técnico que dispunha de autonomia para a gestão dos seus projetos”. Por isso, Cabral alega que não tem como comentar ou responder as perguntas relacionadas à execução da obra. Sobre o fato de ter sido citado nas delações premiadas, o peemedebista disse reiterar o posicionamento anterior de repúdio total às inverdades nelas contidas.
SECRETARIA DEFENDE ADITIVOS O GLOBO também questionou o governo do estado sobre o fato de a obra ter recebido 16 aditivos — um a cada três meses — e se não houve falha no projeto. A Secretaria estadual de Obras disse que as contas do Maracanã foram aprovadas por unanimidade pelo TCU.
“Em relação à execução, a complexidade da obras, sob todos os aspectos, exigiu inúmeros ajustes técnicos sejam nos projetos ou na metodologia executiva. O principal deles foi a substituição da antiga cobertura, condenada por estudos técnicos de especialistas. Outros fatores não previstos inicialmente também foram superados, como, por exemplo, o expressivo aumento de quantitativo de recuperação e reforço estrutural e de demolição verificados no decorrer das obras. À medida que prosseguia a execução da reforma, constatou-se que as áreas que necessitavam de recuperação e reforço estrutural eram muito mais extensas e em maior quantidade do que aquelas indicadas nos estudos iniciais de patologia”, informou a secretaria.
De acordo com o órgão, o valor integral da obra foi pago ao consórcio, mesmo com as indicações das auditorias para reter valores diante de irregularidades, porque todos os procedimentos administrativos, técnicos e financeiros seguiram a lei. Sobre a demora para o julgamentos dos processos no TCE, a secretaria afirmou que não lhe cabe valorar o tempo de análise dos Tribunais de Contas.

Empresa contratada sem licitação é alvo de processo

MPRJ exige que a Hope devolva cerca de R$ 1 milhão aos cofres públicos

WILSON AQUINO
Rio - Uma das empresas contratadas sem licitação pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) para fornecer pessoal para “apoio administrativo e atividades auxiliares”, está sendo processada por improbidade administrativa. Na ação, o Ministério Público pede a Hope Recursos Humanos, ressarcimento de cerca de R$1 milhão aos cofres públicos. A empresa também é alvo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Conforme o ‘Informe do DIA’ noticiou na quarta-feira, a Hope ganhou contrato de R$3,579 milhões para prestar o serviço por 180 dias. A SES justificou a falta de licitação, alegando emergência. Porém, não explicou os motivos da urgência e nem quais funções os contratados vão exercer.
O processo no qual a Hope figura como ré é sobre um contrato firmado com a Prefeitura de Maricá, em 2009. A empresa deveria fornecer mão de obra para a Secretaria de Educação do município, mas, segundo investigação do MP, cobrava por prestadores de serviço que nunca trabalharam na prefeitura de Maricá. De acordo com a denúncia, a Hope recebeu pela prestação de serviços de 147 manipuladores de alimento, sendo que apenas 127 trabalhavam. A empresa também é acusada de cobrar e receber por outros serviços que nunca foram realizados.
Além da Hope, a SES também contratou, sem licitação, a Personal Service Recursos Humanos, por R$17 milhões. Desde 2014, as duas empresas investigadas fecharam negócios com o Governo do Rio no valor de R$193 milhões. Outra empresa beneficiada pela SES foi a Átrio Rio Service Tecnologia e Serviços, que ganhou contrato de R$ 7 milhões para executar os mesmo serviços. Procurada, a SES não quis se pronunciar. O DIA não conseguiu contato com as empresas citadas.

João Vaccari decide quebrar o silêncio
O homem que arrecadou e distribuiu mais de 1 bilhão de reais em propina para o PT, do qual foi tesoureiro, se prepara para falar à Lava Jato
Por: Robson Bonin10/06/2016 às 21:43 - Atualizado em 10/06/2016 às 21:43
 Bonin - Atualizado em 

“Se eu falar, entrego a alma do PT. E tem mais: o pessoal da CUT me mata assim que eu botar a cara na rua.”, João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT

" E tem mais: Se eu falar o pessoal da CUT  me mata assim que eu puser a cara na rua"          ( João Vaccari Neto, ex tesoureiro do PT ).


Em março passado, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto teve uma conversa reveladora com um de seus companheiros de cárcere. A situação de abandono do superburocrata petista, sentenciado a mais de 24 anos de prisão e com pelo menos outras quatro condenações a caminho, fez o interlocutor perguntar se ele não considerava a hipótese de tentar um acordo de delação com a Justiça. Conhecido pelo temperamento fechado, que lhe rendeu o apelido de "Padre" nos tempos de militância sindical, Vaccari respondeu como se já tivesse pensado muito sobre o assunto: "Não posso delatar porque sou um fundador do partido. Se eu falar, entrego a alma do PT. E tem mais: o pessoal da CUT me mata assim que eu botar a cara na rua". Algo aconteceu nos últimos dois meses. Depois desse diálogo travado com um petista importante e testemunhado por outros presos, Vaccari não resistiu às próprias convicções e resolveu romper o pacto de silêncio. O caixa do PT, o homem que durante décadas atuou nas sombras, o dono de segredos devastadores, decidiu delatar.
Preso desde abril do ano passado, o ex-tesoureiro, hoje no Complexo Médico-Penal de Pinhais, no Paraná, está corroído física e psicologicamente, segundo relatam pessoas próximas. Ele sabe que a hipótese de escapar impune não existe. Assim como os demais delatores, sabe que, aos 57 anos de idade, a colaboração com a Justiça é o único caminho que pode livrá-lo de morrer na prisão. Os movimentos do ex-tesoureiro em direção à delação estão avançados. Emissários da família de Vaccari já sondaram advogados especializados no assunto. Em conversas reservadas, discutiu-se até o teor do que poderia ser revelado. Um dos primeiros tópicos a ser oferecido aos procuradores trata da campanha eleitoral de Dilma Rousseff em 2014. Vaccari tem documentos e provas que podem sacramentar de vez o destino da presidente afastada, mas não só. O ex-tesoureiro sempre foi ligado ao ex-­presidente Lula e, como ele mesmo disse, conhece a alma do PT.
A cúpula do partido foi informada sobre a disposição do ex-tesoureiro há duas semanas. A primeira reação dos petistas foi de surpresa, depois substituída por preocupação. Até onde o ex-tesou­reiro chegaria? Uma comitiva foi despachada a Curitiba para tentar descobrir. Encarregado da missão estava o líder do PT na Câmara, Afonso Florence, que foi ao presídio acompanhado pelo ex-deputado paranaense Ângelo Vanhoni. Em Pinhais, ainda não se sabe exatamente de que maneira a comitiva conseguiu driblar os controles da prisão e conversar longamente com o ex-tesoureiro. Magoado, reclamando de ter sido esquecido na prisão, Vaccari confirmou sua decisão de quebrar o silêncio. Os petistas retornaram a Brasília estranhamente mais calmos. Florence procurou o líder do PT no Senado, Paulo Rocha, e relatou a conversa que tivera com Vaccari. "Será uma explosão controlada", disse. O que significava isso? O parlamentar explicou que Vaccari pode prestar depoimentos calculados, detonando explosões com efeito controlado para provar a "ilegitimidade" do governo Temer. Se o plano petista der certo, a carreira política de Dilma Rousseff será liquidada, mas também terá arrastado ao cadafalso o presidente interino Michel Temer, por comprometer a chapa eleita em 2014.

As provas de Odebrecht e o caixa 2 de Dilma

Executivos da empreiteira prometem entregar provas que confirmam remessas para abastecer o caixa dois de Dilma, conforme revelou ISTOÉ em sua última edição


Na última semana, ISTOÉ revelou que a presidente afastada, Dilma Rousseff, exigiu de Marcelo Odebrecht, em encontro pessoal depois do primeiro turno das eleições de 2014, R$ 12 milhões para a campanha à reeleição. O recurso abasteceu o caixa paralelo. Do total, R$ 6 milhões foram repassados ao marqueteiro João Santana e R$ 6 milhões ao PMDB. A afirmação foi feita por Odebrecht durante acordo de delação premiada, ainda em negociação. Executivos da empreiteira prometem fornecer provas para sustentar o que dizem. Segundo apurou ISTOÉ, a Odebrecht se comprometeu com o Ministério Público Federal a entregar uma série de documentos que confirmam a remessa de dinheiro para o caixa dois de Dilma. Entre esses papéis estão planilhas que detalham as datas e valores dos pagamentos, os nomes dos beneficiários e as contas no exterior onde foram feitos depósitos.
Serão identificadas contas e operadores, segundo um dos membros da força tarefa que participa das negociações, ainda não conhecidos pela Lava Jato. Algumas dessas contas já foram reveladas e os procuradores buscam detalhá-las com o apoio dos órgãos de controles de outros países, que possuem acordo com o Brasil. Ao longo da semana, mais uma revelação corroborou a prática criminosa. Preso pela Operação Lava Jato por pagar propina em contratos da Petrobras, o lobista Zwi Skornicki afirmou que os US$ 4,5 milhões que pagou João Santana eram, na verdade, para financiar a campanha da petista por meio de caixa dois.
Na chamada delação definitiva, os diretores da Odebrecht prometem munir os procuradores da força-tarefa da Lava Jato de mais informações estratégicas. Como o pagamento feito diretamente aos fornecedores da campanha, mas cujos recibos foram emitidos em nome do partido. Ou seja, o PT, segundo um dos procuradores, apresentou à Justiça Eleitoral despesas abatidas do caixa oficial da campanha, mas na verdade não usou os recursos declarados para efetuar esses pagamentos. A Odebrecht colocará à disposição da Lava Jato os registros internos com os valores e datas desses pagamentos, além de identificar as pessoas físicas e jurídicas que receberam os recursos.
MAIS UM Lobista Zwi Skornicki afirmou que os US$ 4,5 milhões que pagaram João Santana eram caixa dois de Dilma
MAIS UM Lobista Zwi Skornicki afirmou que os US$ 4,5 milhões que pagaram João Santana eram caixa dois de Dilma (Crédito:Giuliano Gomes)
A empreiteira entregará ainda todos os contratos de obras feitas no exterior e com financiamento do BNDES. São casos que fogem do 


alcance dos organismos de controle do País e que foram negociados pessoalmente pelo ex-presidente Lula. Também nesses casos foram feitos diversos pagamentos em contas abertas no exterior, algumas já reveladas. Até a semana passada, os membros da força tarefa planejavam abrir uma nova investigação específica para os financiamentos internacionais do BNDES, pois são casos que não guardam relação direta com o Petrolão.
A revelação trazida por ISTOÉ na última semana sacudiu o mundo político e ganhou as páginas de jornais internacionais. Na edição de terça-feira 7, o jornal o The New York Times traçou um perfil da presidente afastada em que faz menção à reportagem. O texto descreve que Dilma vive um estado de espírito inconstante, entre a sustentação da retórica de ter sofrido um golpe e a esperança de retornar ao poder. A publicação, no entanto, é enfática ao analisar que, em simultâneo às denúncias contra integrantes do novo governo, surgem revelações que a colocam cada vez mais no epicentro das investigações do Petrolão, como a revelação feita por ISTOÉ.
“Declarações (de Odebrecht) contribuem para desmoronar a imagem De Dilma” - Aloysio Nunes, líder do governo no Senado
“Declarações (de Odebrecht) contribuem para desmoronar a imagem De Dilma” – Aloysio Nunes, líder do governo no Senado
No cenário político, a declaração de Marcelo Odebrecht insuflou a oposição a Dilma. O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), disse que o conteúdo compromete a presidente afastada. Ele estuda pedir para incluir a acusação de Odebrecht no processo no Senado. “Essas declarações formam a convicção de que ela não pode continuar na Presidência. Contribuem para desmoronar a imagem virginal que o PT tentou construir”.