Mais de 200 policiais participam da ação contra agentes envolvidos que extorquiam pessoas que cometiam atividades ilícitas. Dois delegados e um chefe de cartório aposentado da Polícia Civil são os principais alvos
Rio - A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança (Sinte), as corregedorias das polícias Civil e Militar e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao Ministério Público Estadual (MPRJ), fazem uma megaoperação, na manhã desta quinta-feira, contra agentes de segurança. Até 12h, 36 pessoas tinham sido presas, sendo 21 policiais civis, cinco PMs e um agente da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap). A ação envolve mais de 200 policiais em vários bairros do Rio e o objetivo é cumprir 45 mandados de prisão: 23 contra policiais civis, sendo dois delegados; sete policiais militares, um bombeiro militar, advogado e outras 12 pessoas.
Segundo a denúncia que deu
origem à segunda fase da operação "Quarto Elemento", os alvos extorquiam
quem cometia atividades criminosas e são acusados de organização
criminosa, corrupção passiva e ativa e concussão (crime praticado por
funcionário público quando ele exige vantagem indevida para si ou para outro).
Também vão ser cumpridos sete mandados de busca e apreensão - sendo dois contra
policiais civis, um contra agente penitenciário e quatro envolvendo outras
pessoas.
Ao todo, o Ministério Público
do Rio denunciou 48 pessoas, sendo elas 24 policiais civis, seis policiais
militares, dois bombeiros militares, um agente penitenciário e outras 15 que
atuavam como informantes ou ajudantes dos policiais.
Investigação
As investigações para a
operação começaram há cerca de um ano a partir de informações de
que agentes da segurança pública extorquiam pessoas que cometiam
atividades ilícitas. Entre os alvos da quadrilha estavam até presos, que
conseguiam liberdade através do bando.
Ao longo das investigações foi
descoberto que existiam varias células dentro da quadrilha. Uma era denominada
“administração” e teria como líder o delegado Rodrigo Sebastian Santoro Nunes.
Preso na manhã de hoje, Delmo Fernandes Baptista Nunes, era braço direito do
delegado. Outro com influência no esquema e que exercia papel de importante na
quadrilha seria o também delegado Thiago Luis Martins da Silva. Os presos estão
sendo levados para a Cidade da Polícia, no Jacaré, na Zona Norte.
Rodrigo Santoro trabalha
atualmente na Delegacia de Acervo Cartorário (Capital), mas já foi lotado
na 34ª DP (Bangu), 35ª DP (Campo Grande), 36ª DP (Santa Cruz), Delegacia de
Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói e na Delegacia de Roubos
e Furtos (DRF). Já Thiago Luís deveria estar de plantão na Central de Garantias
Norte, na Cidade da Polícia. Ele, que também já trabalhou na 34ª DP, chegou a
sair de casa de moto, mas não chegou à CG-Norte nesta manhã.
Como funcionava o esquema
Para o Ministério Público, o
grupo estava reunido em torno de um objetivo comum: identificar pessoas que
estivessem fora da lei, seu potencial econômico e fazer “operações” policiais
contra elas, sempre com a intenção de pega-las em flagrante comentando algum
tipo de crime. Após isso, eles exigiam uma quantia muito alta em dinheiro para
que os suspeitos não fossem presos ou tivessem as mercadorias apreendidas. A investigação identificou que
qualquer pessoa que praticasse algo ilegal poderia ser vítima do bando. O MP
identificou extorsão contra vendedores de mercadorias piratas, ambulantes,
postos de gasolina, bingos, donos de veículos clonados e comerciantes em
situação irregular.
Ainda de acordo com o MP, a
quadrilha chegou a fazer ameaças e até agrediram fisicamente as vítimas. O
bando também chegou a desviar os materiais apreendidos para serem revendidos. O
esquema também tinha informantes, responsáveis por levar aos agentes
denunciados dados sobre possíveis alvos envolvidos com ilícitos e que poderiam
gerar propina.
Rodrigo Santoro e Delmo
Fernandes eram do "alto escalão" e gerenciavam, fiscalizavam e
recebiam os lucros obtidos pelo esquema criminoso. financeiros produzidos pelos
demais membros da organização. Já a atuação do delegado Thiago Luis
ocorria quando a negociação com os suspeitos pegos em atividade criminoso não
era concluída no local da abordagem. Nesses casos, o alvo era levado para a
delegacia, apresentado a Thiago Luis, que convencia o alvo de fazer o
pagamento de propina, reforçando as ameaças feitas pelo grupo.
O esquema de arrecadação de
vantagens ilícitas começou na 34ª DP, em Bangu, mas com as transferências dos
policiais envolvidos, passou a ser praticado na 36ª DP (Santa Cruz) e,
posteriormente, na Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Niterói. A primeira fase da
Operação Quarto Elemento foi realizada em setembro do ano passado para
cumprir seis mandados de prisão, quatro deles contra policiais civis e outros
dois contra suspeitos que atuavam como informantes dos agentes.
Delegado com nome de galã ostentava em rede social
Com nome e pinta de galã, o
delegado Rodrigo Santoro, apontado como o líder da quadrilha, ostentava nas
redes sociais. Em seu perfil no Facebook e de outras pessoas em comum, ele
aparece em fotos em momentos de lazer com família e amigos em resort em
Angra dos Reis e até em viagem internacional na neve. Com um salário
líquido de quase R$ 17 mil, ainda assim Rodrigo Santoro fazia parte de um
esquema para extorquir supostos criminosos.
"Sou intenso. Amo a vida,
a família e os amigos. Busco incessantemente a felicidade", se descreve na
rede social o Russo, como é chamado por alguns amigos. Sua última postagem
pública foi anunciando seu "casamento", em 14 de fevereiro deste ano.
"Como fomos morar juntos, decidimos mudar o status no Face, mais não houve
cerimônia (sic)", disse Santoro.
Alvo preso com arsenal
de guerra
Um dos mandados de
prisão foi contra Rafael Luz Souza, conhecido como Pulgão, oficial de
cartório da Polícia Civil, que está preso desde julho deste ano.
Ele foi alvo de uma ação da
Corregedoria da instituição e no momento da prisão com outras três
pessoas, em uma boate na Barra, Pulgão estava co um arsenal de guerra, com cinco
fuzis, oito pistolas, uma metralhadora antiaérea, uma arma de paintball e
munições de vários calibres. Eles eram apontados como suspeitos
de integrar uma milícia que atua em Realengo, Bangu e Campo Grande, na Zona
Oeste.
Confira os policiais presos já identificados
- Delegado Rodrigo Santoro Nunes -
Delegacia de Acervo Cartorário da Capital (FORAGIDO);
- José Ricardo Cabral dos Anjos -
Delegacia de Homicídios (DH) (FORAGIDO);
- Delmo Fernandes Baptista Nunes -
Chefe de cartório aposentado;
- Carlos Tadeu Gomes de Freitas filho -
já estava preso;
- Xavier Fernandes Coelho - já estava
preso;
- Rafael Ferreira dos Santos - já
estava preso;
- Jorge Felipe de Paula Coelho - 50ª DP
(Itaguaí);
- Carlos Vieira Silvestre - Delegacia
de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA);
- Rafael Luz de Souza, o Pulgão;
oficial de cartório que já estava preso;
- Ricardo da Costa Canavarro - Da 4ª DP
(Praça da República);
- Quintino Pedro de Moraes Santos -
Policial aposentado
- Antônio Sérgio de Almeida Mazoli -
34ª DP (Bangu);
- Rafael Berg de Carvalho - Posto
Regional de Polícia Técnico-Científica de Duque de Caxias (PRPTC-DC);
- Flávio Chaves Cardoso - trabalha no
setor de transporte;
- Marcelo Jano Fernandes da Silva
- Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA);
- Gabriel Jorge Oliveira de
Medeiros Souza - 59ª DP;
- Thiago Ventura Scolarick Braga -
Perito do Posto Regional de Polícia Técnico-Científica (PRPTC) de Campo Grande;
- Walquir Corrêa da Rocha
- PRPTC de Campo Grande;
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