Valor teria sido recolhido com empresas da área de alimentação
RIO — O advogado Jonas
Lopes Neto afirmou em delação premiada que o subsecretário de Comunicação do
governo do Rio, Marcelo Santos Amorim, contou a ele ter pago R$ 900 mil em
despesas pessoais do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) com recursos oriundos
de corrupção. Os valores viriam de empresas da área de alimentação que
mantinham contratos com o estado.
Marcelinho, como é
conhecido, é casado com uma sobrinha de Pezão e foi levado coercitivamente para
depor durante a deflagração da Operação O Quinto do Ouro, na qual foram presos
cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). O subsecretário é
citado em depoimentos ao Ministério Público Federal (MPF) como um dos
operadores do suposto esquema de corrupção que envolvia fornecedores do estado
e conselheiros do TCE-RJ. Jonas Lopes Neto é filho do ex-presidente do Tribunal
Jonas Lopes de Carvalho, que também firmou acordo de colaboração.
“Que Marcelinho, além dos
R$ 150 mil recolhidos na Milano (empresa de alimentação), apresentou ao
colaborador uma anotação indicando que teria arrecadado quase R$ 900 mil junto
às demais empresas, mas teria utilizado a quantia para pagamento de despesas do
governador Pezão”, disse Jonas Lopes Neto. Os delatores contaram que
um dos braços do esquema envolveu a liberação de R$ 160 milhões, em 2016, de um
fundo do TCE para o governo estadual, em função da crise financeira. A
transferência ocorreu após a aprovação de uma lei na Assembleia Legislativa do
Rio (Alerj) e foi direcionada para empresas que forneciam alimentação para os
presidiários. O Tribunal concordou em dar a ajuda financeira desde que as
empresas repassassem aos conselheiros 15% dos valores recebidos do governo
estadual. Marcelinho, que já tinha uma relação estabelecida com as companhias,
ficaria com 1% do valor arrecadado. Em seu depoimento, Jonas Lopes Neto diz que
Marcelinho "seria o operador de Pezão".
Em nota, o governador
afirmou que "desconhece o teor das investigações". Ele nega ter
"recebido valores ilícitos ou autorizado qualquer pessoa a receber".
Pezão diz ainda que está "à disposição da Justiça para quaisquer
esclarecimentos".
Marcelinho disse que
"já prestou todos os esclarecimentos à Polícia Federal" e que
"repudia as declarações mentirosas imputadas a ele".
PF APONTOU INDÍCIOS DE PROPINA A PEZÃO
Em fevereiro, a Polícia
Federal apontou em relatório indícios de que Pezão recebeu propina do esquema que,
segundo o Ministério Público Federal (MPF), era comandado pelo ex-governador
Sérgio Cabral (PMDB). O nome do governador consta em anotações manuscritas
encontradas durante busca e apreensão na casa de Luiz Carlos Bezerra, apontado
como um dos operadores de Cabral. O juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio,
Marcelo Bretas, encaminhou o documento à Procuradoria-Geral da República (PGR),
já que Pezão tem foro privilegiado. De acordo com a PF, Pezão estaria ligado a
repasses de propina de R$ 140 mil e um outro de R$ 50 mil.
“Apesar de ainda não terminada a análise do
material (outras pessoas recebedoras de valores estão sendo identificadas), é
certo que foi identificado como recebedor de valores o Sr. Luiz Fernando Pezão,
governador do estado do Rio de Janeiro (ainda que nesse momento haja decisão do
TRE pelo seu afastamento) sendo necessário que, salvo melhor juízo, Vossa
Excelência, após parecer ministerial, possa submeter tais itens ao foro
competente (STJ) para proceder a investigação em face do mesmo”, aponta o
delegado Antonio Carlos Beaubrun, que coloca a PF à disposição para novos
esclarecimentos.
GOVERNADOR SABIA DE PROPINA AO TCE
Na delação, Jonas Lopes
de Carvalho contou que discutiu o repasse de propina aos conselheiros numa
reunião na casa do governador do Rio. Esse encontro teria acontecido
em 2013, quando Jonas era presidente do TCE e Pezão, vice-governador.
De acordo com o delator,
“Pezão acompanhou toda a reunião e dela participou ativamente, inclusive
intervindo para acalmar as discussões iniciais e que toda a discussão sobre as
vantagens indevidas pagas ao TCE foi feita às claras na presença de Pezão”.
O ex-presidente do TCE
conta também que se reuniu novamente com Pezão em 2015, no Palácio Guanabara.
Segundo a delação premiada, Jonas Lopes “indagou quem falaria ao governo junto
ao TCE”. Pezão respondeu que “seria Affonso Henrique Monnerat Alves da
Cruz", secretário de Governo. Ainda de acordo com o delator, com a
expressão “falaria ao governo junto ao TCE”, tanto o colaborador quanto o
governador entendiam ser uma referência aos acertos com os integrantes do
Tribunal de Contas.
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