Com cinco séculos de história, receita de R$ 20 bilhões por ano
e 120 mil empregados, os Correios naufragam de forma espetacular
Por Augusto Nunes
É um naufrágio
espetacular: está à beira da falência um serviço com cinco séculos de história,
receita de R$ 20 bilhões por ano garantida por monopólio constitucional, 120
mil empregados na folha de pagamentos e escritórios em 88% das cidades
brasileiras.
Com sucessivos
prejuízos, os Correios ficaram virtualmente inviabilizados porque foram
transformados em mercadoria no balcão de governos, partidos e sindicatos.
A insatisfação dos
clientes cresce de forma exponencial. Em São Paulo, por exemplo, o volume de
reclamações já é 607% maior que cinco anos atrás e 120% acima do recorde do ano
passado, segundo os registros do Procon paulistano até o último dia 15 de
setembro.
Esta semana começou com
a terceira greve dos últimos 11 meses. Serviços postais em 20 estados
amanheceram ontem prejudicados por causa de uma antiga disputa entre a Central
Única de Trabalhadores, braço sindical do PT, e entidades emergentes no
sindicalismo.
A empresa foi
estatizada há 220 anos. Seu processo de destruição é recente e coincide com a
deterioração dos padrões da política doméstica. Evidências da anarquia, com
múltiplos episódios de corrupção, clientelismo político e sindical, começaram a
ser expostas quando o governo Lula chancelou nomeados do PT, PCdoB, PTB, PDT e
PMDB, entre outros, para o comando dos Correios e do Postalis, o fundo de
pensão dos carteiros.
Em meados de agosto de
2005, Lula recebeu um relatório de auditoria sobre sete em cada dez contratos
assinados em 40 departamentos dos Correios, durante os seus 19 meses de
governo. Em valor, correspondiam a dois terços do faturamento anual. O
documento descrevia 525 tipos de irregularidades, a maior parte classificada
como de “alto risco” para a empresa.
No desgoverno,
gastaram-se R$ 13 bilhões (corrigidos pelo IGP-M) em equipamentos e tecnologia
sem análise de viabilidade técnica, de custos e de condições jurídicas, alguns
com pagamentos antecipados e sem comprovação. Num deles, pagou-se R$ 178
milhões por uma “avaliação da gestão”. O resultado? “Insuficiente”, ironizaram
os auditores.
Nessa mesma época, o fundo de
pensão dos Correios passou grande parte dos seus recursos à gestão da Atlântica
Administradora de Recursos, em parceria com o banco Mellon, dos EUA. Mais
tarde, o Postalis descobriu que o dinheiro havia evaporado na compra de títulos
sem valor da Venezuela e da Argentina. O prejuízo estimado em R$ 5 bilhões.
Enquanto isso, o caixa da
empresa era drenado em mais R$ 5 bilhões para socorrer o governo Dilma
Rousseff, sob a forma de pagamento de dividendos à União.
Com Michel Temer, tudo
mudou para continuar onde está, inclusive a inapetência para enfrentar a crise.
O
quadro lembra o samba de Bezerra da Silva:
“Antigamente
governavam decente, sem sacrilégio
Hoje são indecentes, cheios de privilégio
É só caô, caô pra cima do povo
Promessa de um Brasil novo
E uma política moderna
Para tirar o Brasil dessa baderna
Só quando o morcego doar sangue
E o saci cruzar as pernas.”
Hoje são indecentes, cheios de privilégio
É só caô, caô pra cima do povo
Promessa de um Brasil novo
E uma política moderna
Para tirar o Brasil dessa baderna
Só quando o morcego doar sangue
E o saci cruzar as pernas.”
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