O ex-deputado Eduardo
Cunha falou pela primeira vez desde que foi preso, em entrevista publicada pela
revista Época neste
final de semana. "Sou um preso político", disse Cunha. que também
comentou sobre a vida na prisão, da negociação frustrada de delação com o
então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do que ele considera
uma perseguição judicial contra ele. Ele Acusa a existência de um mercado de
delações premiadas, e colocou-se à disposição da sucessora de Janot, Raquel
Dodge, para voltar a negociar.
Cunha foi condenado em
primeira instância e responde a processos por corrupção em Curitiba, Brasília e
no Rio de Janeiro.
"Estou pronto para
revelar tudo o que sei, com provas, datas, fatos, testemunhas, indicações de
meios para corroborar o que posso dizer. Assinei um acordo de confidencialidade
com a Procuradoria-Geral da República, de negociação de colaboração, que ainda
está válido. Estou disposto a conversar com a nova procuradora-geral. Tenho
histórias quilométricas para contar, desde que haja boa-fé na negociação",
apontou.
"[Me] Prenderam
para ter um troféu político. O outro troféu é o Lula. Um troféu para cada
lado."
Para Cunha, está claro
que não houve boa-fé na negociação da delação dele com
Janot. "Nunca acreditei que minha delação daria certo com o
Janot. Tanto que não deu", afirmou. "Topei conversar para mostrar a
todos que estou disposto a colaborar e a contar a verdade. Mas só uma criança
acreditaria que Janot toparia uma delação comigo. E eu não sou uma criança. O Janot não queria a
verdade; só queria me usar para derrubar o Michel Temer",
completou.
Questionado sobre a
afirmação de que Janot só estaria interessado em "derrubar o Michel
Temer", Cunha responde: "Tenho muito a contar, mas não vou admitir o
que não fiz. Não recebi qualquer pagamento do Joesley [Batista, dono
da JBS] para manter silêncio sobre qualquer coisa. Em junho, quando fui depor à
Polícia Federal sobre esse episódio, disse que tanto não mantinha silêncio
algum que ninguém havia me chamado a colaborar, a quebrá-lo. Naquele momento, o
Ministério Público e a Polícia Federal me procuraram para fazer colaboração.
Autorizei meus advogados a negociar com o MP."
Cunha alega que Janot queria que ele
"colocasse mentiras na delação para derrubar o Michel Temer".
"Se vão derrubar ou não o Michel Temer, se ele fez algo de errado ou não,
é uma outra história. Mas não vão me usar para confirmar algo que não fiz, para
atender aos interesses políticos do Janot. Ele operou politicamente esse
processo de delações."
"O Janot, na
verdade, queria um terceiro mandato. Mas seria difícil, tempo demais para um
só", diz o deputado preso. "O Joesley fez uma delação seletiva, para
atender aos interesses dele e do Janot. Há omissões graves na delação
dele."
"A maior prova de
que Janot operou politicamente é que ele queria que eu admitisse que vendi o
silêncio ao Joesley para poder usar na denúncia contra o Michel Temer. Não
posso admitir aquilo que não fiz. Como não posso admitir culpa do que eu não
fiz, inclusive nas ações que correm no Paraná. Estava disposto a trazer fatos
na colaboração que não têm nada a ver com o que está exposto nas ações penais.
Eles não queriam."
Cunha continua destacando
pontos que os procuradores supostamente gostariam que ele confirmasse, e atesta
que "eles tiram as conclusões deles e obrigam a gente a confirmar".
"Os caras não aceitam quando você diz a verdade. Queriam que eu
corroborasse um relatório da PF que me acusa de coisas que não existem. Não é
verdade. Então não vou."
O ex-deputado, contudo,
não quis adiantar o que ele teria para contar à Justiça. "Infelizmente,
não posso adiantar, entrar no mérito desses casos. Quebraria meu acordo com a
PGR. Eu honro meus acordos."
Cunha defende que há
"muito contrabando e mentiras" na delação de Lúcio Funaro. "A
delação do Lúcio Funaro foi feita única e exclusivamente pelo que ele ouviu
dizer de mim. O problema é que ele disse que ouviu de mim coisas que não
aconteceram. (...) Tudo que ele falou do Michel Temer que disse ter ouvido
falar de mim é mentira. Ele não tinha acesso ao Michel Temer ou aos deputados.
Eu tinha."
"Moro queria destruir a elite política e conseguiu",
diz Cunha
"Minha prisão foi
absurda. Não me prenderam de acordo com a lei, para investigar ou porque
estivesse embaraçando os processos. Prenderam para ter um troféu político. O
outro troféu é o Lula. Um troféu para cada lado. O MP e o Moro queriam ter um
troféu político dos dois lados", afirmou o ex-deputado.
Cunha também comentou
sobre o juiz federal Sérgio Moro: "Nós temos um juiz que se acha salvador
da pátria. Ele quis montar uma operação Mãos Limpas no Brasil – uma operação
com objetivo político. Queria destruir o establishment, a elite política.
E conseguiu."
Nenhum comentário:
Postar um comentário