Procurador-geral da República denunciou petistas ao Supremo
Tribunal Federal em inquérito que apura se partido formou organização criminosa
para desviar dinheiro da Petrobras.
O procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, denunciou ao Supremo Tribunal Federal por crime de
organização criminosa os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff; os ex-ministros Antonio Palocci Filho, Guido Mantega, Edinho Silva e
Paulo Bernardo; a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT; e o
ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.
A denúncia, no âmbito
da Operação Lava Jato, foi oferecida dentro de inquérito que apura se o PT
formou uma organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras.
Todos os denunciados
são suspeitos de “promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou
por interposta pessoa, organização criminosa”, cuja pena é de 3 a 8 anos de
prisão, além de multa.
A PGR também cobra dos
oito denunciados indenização de R$ 6,8 bilhões, valor que inclui devolução à
Petrobras de suposto dinheiro desviado, além de danos morais e materiais.
O G1 busca
contato com todos os denunciados (leia as versões deles ao final desta
reportagem).
Caberá ao ministro Luiz
Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, notificar os acusados a
apresentarem resposta e levar o caso à Segunda Turma do STF, que decidirá se
eles viram ou não réus pelo crime.
O caso está no Supremo
Tribunal Federal porque um dos denunciados, Gleisi Hoffmann, tem foro
privilegiado, devido à condição de senadora.
Janot pediu ao STF que
sejam remetidos para a Justiça Federal do Paraná os casos dos ex-ministros
Ricardo Berzoini, Jaques Wagner e Erenice Guerra; do ex-senador Delcídio do
Amaral; do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli; além dos de Paulo
Okamoto, ex-presidente do Sebrae; Giles Azevedo, ex-assessor de Dilma; e o do
pecuarista José Carlos Bumlai.
Como os casos deles não
têm relação direta com o de Gleisi, não devem ficar no Supremo e – se assim
decidir o ministro Fachin – serão analisados pelo juiz Sérgio Moro, responsável
pela Lava Jato na primeira instância da Justiça Federal, no Paraná.
A
denúncia
Segundo a denúncia,
entre 2002 e 2016, os oito acusados "integraram e estruturaram uma
organização criminosa com atuação durante o período em que Lula e Dilma
Rousseff sucessivamente titularizaram a Presidência da República, para
cometimento de uma miríade de delitos, em especial contra a administração
pública em geral".
De acordo com o
procurador-geral, o grupo do PT é "parte de uma organização criminosa
única, que congrega, pelo menos, os partidos PT, PMDB e PP, bem como núcleos
diversos.
O procurador diz que o
esquema permitiu que os acusados recebessem, juntos, R$ 1,5 bilhão em propina.
Segundo Janot, Lula já
foi acusado de organização criminosa no Paraná, mas a apuração no Supremo
"é mais abrangente" por "narrar maior quantidade de ilícitos
praticados pela organização".
Para Janot, "os
concertos das ações criminosas praticadas voltaram-se especialmente para a
arrecadação de propina por meio da utilização de diversos entes e órgãos
públicos da administração pública direta e indireta, tais como a Petrobras, do
BNDES e do Ministério do Planejamento".
O grupo do PT, segundo
Janot, teria atuado até maio de 2016, quando Dilma teve de deixar a Presidência
após condenação no processo de impeachment.
Lula
A participação de Lula,
de acordo com a denúncia, remonta a 2002, quando ele foi eleito pela primeira
vez para o Planalto.
“Lula, de 2002 até maio
de 2016, foi uma importante liderança, seja porque foi um dos responsáveis pela
constituição da organização e pelo desenho do sistema de arrecadação de
propina, seja porque, na qualidade de presidente da República por 8 anos, atuou
diretamente na negociação espúria em torno da nomeação de cargos públicos com o
fito de obter, de forma indevida, o apoio político necessário junto ao PP e ao
PMDB para que seus interesses e do seu grupo político fossem acolhidos no
âmbito do Congresso Nacional”, narra a denúncia.
Para Janot, Lula deve
ter condenado a uma pena maior que os demais porque é considerado
"líder" da suposta organização criminosa. O primeiro episódio narrado
sobre o presidente é de 2002, quando teria aceitado dinheiro da Odebrecht para
sua campanha, em troca de beneficiar o grupo em seu eventual governo, caso
fosse eleito.
“Lula foi o grande
idealizador da constituição da presente organização criminosa, na medida em que
negociou diretamente com empresas privadas o recebimento de valores para
viabilizar sua campanha eleitoral à presidência da República em 2002 mediante o
compromisso de usar a máquina pública, caso eleito (como o foi), em favor dos
interesses privados deste grupo de empresários. Durante sua gestão, não apenas
cumpriu com os compromissos assumidos junto a estes, como atuou diretamente e
por intermédio de Palocci, para que novas negociações ilícitas fossem
entabuladas como forma de gerar maior arrecadação de propina”, afirma Janot.
Dilma
Janot diz que a
ex-presidente Dilma Rousseff integrou a organização criminosa desde 2003,
quando assumiu o Ministério de Minas e Energia, a convite de Lula.
“Desde ali contribuiu
decisivamente para que os interesses privados negociados em troca de propina
pudessem ser atendidos, especialmente no âmbito da Petrobras”, diz a denúncia.
Para o procurador, os
delitos da petista teriam continuado quando ocupou a Presidência, destacando as
negociações que fez junto à Odebrecht. A denúncia diz que ela atuou, de “forma
indireta” na cobrança de propina, por meio de Mantega e Edinho Silva.
“Da mesma forma,
durante o governo de Dilma, sempre que havia atrasos no pagamentos a João
Santana [marqueteiro do PT] pela Odebrecht, era Dilma que resolvia de imediato
a questão”, acrescenta Janot.
O procurador lista
diversas contrapartidas obtidas pela Odebrecht durante os governos Lula e
Dilma, entre os quais: ampliação de crédito para exportações para Angola;
liberação de recursos para construção de submarinos; benefícios tributários
para a Braskem; atuação em prol da empresa em obras de usinas hidrelétricas; e
facilitação da compra, pela Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) de torre
comercial do grupo.
“Ao longo dos governos
Lula e Dilma, por manifesta contribuição dos ora denunciados no esquema
criminoso acima narrado, a holding Odebrecht S.A. obteve espantosa evolução
patrimonial, saltando o seu ativo total de R$ 15.894.355.000,00 em 2005 para R$
213.329.886.000,00 em 2015, uma multiplicação de seus bens em mais de 13 vezes,
durante o aludido período”, registra Janot.
Versões
dos denunciados
Lula -
"A denúncia da PGR, sem qualquer fundamento, é uma ação política. É o auge
da campanha de perseguição contra o ex-presidente Lula movida por setores
partidarizados do sistema judicial. Foi anunciada hoje para tentar criar um
fato negativo no dia em que Lula conclui sua vitoriosa jornada pelo
Nordeste", informou a assessoria do ex-presidente.
Dilma
Rousseff - "Sobre a denúncia apresentada pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a Assessoria de Imprensa da
presidenta eleita Dilma Rousseff esclarece: 1. Sem apresentar provas ou
indícios da materialidade de crime, o chefe do Ministério Público Federal
oferece denúncia ao Supremo Tribunal Federal sem qualquer fundamento. 2. Caberá
ao STF garantir o amplo direito de defesa e reparar a verdade, rejeitando-a. 3.
A Justiça será feita e não prevalecerá o Estado de Exceção. Não há mais espaço
para a Justiça do Inimigo."
Gleisi
Hoffmann - “Tomei conhecimento da denúncia ao mesmo
tempo em que foi divulgada à imprensa. É uma denúncia sem qualquer fundamento.
Busca criminalizar a política e o Partido dos Trabalhadores no mesmo momento em
que malas de dinheiro são descobertas e membro do Ministério Público é
envolvido em denúncias."
Antonio
Palocci - A defesa do ex-ministro informou que somente
se manifestará quando tiver conhecimento da denúncia.
Guido
Mantega - "É no mínimo contraditório que, num dia
histórico, quando o Brasil se depara com a desfaçatez dos delatores e sua
disposição ao teatro e à dissimulação, a PGR resolva oferecer denúncia usando
como prova basicamente a palavra de delatores, antes de empreender uma apuração
mínima para saber se as acusações possuem algum elo com a realidade",
afirmou a defesa do ex-ministro.
Edinho
Silva - O ex-ministro afirmou que sempre agiu de
forma ética e legal, que não tem dúvidas de que todos os fatos serão
esclarecidos e que a justiça vai prevalecer.
Paulo
Bernardo - A defesa do ex-ministro Paulo Bernardo
afrimou que não teve conhecimento da denúncia e nem da existência de inquérito
policial para apurar essas possíveis condutas.
João
Vaccari Neto - "A defesa do Sr. João Vaccari
Neto, diante dessa surpreendente denúncia ofertada hoje, pelo Sr. Procurador
Geral da República, manifesta-se, asseverando que ela é totalmente
improcedente, pois o Sr. Vaccari, enquanto tesoureiro do PT, cumpriu seu papel,
de solicitar doações legais destinadas ao partido, as quais sempre foram
depositadas na conta bancária partidária, com respectivo recibo e a prestação
de contas às autoridades competentes, tudo dentro da lei e com absoluta
transparência. O Sr. Vaccari continua confiando na Justiça brasileira e tem
convicção de que as acusações que lhe são dirigidas, haverão de ser
rejeitadas", afirmou em nota o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso.
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