Renato Pereira diz que só na campanha de Pezão ao governo
do Rio ele recebeu cerca de R$ 800 mil de forma não declarada.
O marqueteiro Renato Pereira revelou, em
delação, detalhes dos pagamentos em caixa dois durante as campanhas do
ex-governador Sérgio Cabral, do atual governador Luiz Fernando Pezão e também
do ex-prefeito Eduardo Paes. Nesta terça-feira (14), o ministro Ricardo
Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), devolveu o acordo de delação
para a Procuradoria-Geral da República fazer os ajustes. O ministro viu
ilegalidades no acordo e considerou as condições muito favoráveis ao delator.
Lewandowski também retirou o sigilo dos depoimentos.
Renato Pereira foi o
marqueteiro responsável por campanhas de políticos do PMDB a cargos executivos
no Rio de Janeiro durante quase 10 anos. No acordo de delação fechado com a
Procuradoria-Geral da República, Renato Pereira diz que era comum se pagar
parte do valor das campanhas em caixa dois e que só na campanha de Pezão ao
governo do Rio ele admitiu ter recebido cerca de R$ 800 mil de forma não
declarada.
O marqueteiro disse que
o então secretário de Obras do Rio, Hudson Braga, atualmente preso por fazer
parte da quadrilha chefiada por Sérgio Cabral, era o responsável pelos
pagamentos de campanha e que teria apresentado um cronograma que previa entrega
de pagamentos quinzenais, sendo uma parte contabilizada e o restante via caixa
dois. Renato Pereira afirmou ainda que ficou combinado o pagamento parcelas
mensais de R$ 300 mil, entregues a ele pelo emissário Barata. Fontes ouvidas
pela TV Globo dizem que Barata é Jacob Barata Filho, empresário do setor de
ônibus, preso nesta terça na Operação Cadeia Velha.
Renato ainda contou
que, durante a campanha, os pagamentos passaram a ser feitos de forma irregular
e que isso foi informado ao governador Pezão. Para regularizar a situação,
ficou acertado com Leandro Azevedo, superintendente da Obredecht no Rio, que a
empreiteira faria pagamentos em uma conta no exterior, na qual deveria ser
depositado o valor de 800 mil euros, o que hoje representa mais de R$ 3
milhões. O marqueteiro diz que o pagamento se concretizou.
Ele também diz ter
participado de uma reunião no apartamento de Pezão, na qual o governador
relatou que havia conversado com o dono da Andrade e Gutierrez, Sérgio Andrade,
para que a empreiteira contribuísse com R$ 10 milhões. O marqueteiro disse
ainda que R$ 3 milhões vieram a partir da simulação da rescisão de um contrato
de parceria com o grupo PPR, que havia recebido os valores da Andrade
Gutierrez.
Outra parte do
pagamento, quase R$ 2 milhões, segundo o delator, teria sido feito pela agência
Propeg, que recebeu a quantia da Andrade Gutierrez e contratou a prole para um
serviço claramente superfaturado.
Na delação, Renato
contou detalhes também da campanha de Cabral ao governo do Rio em 2010. O
delator disse que o ex-governador indicou Wilson Carlos, seu então secretário
de governo para acertar os pagamentos de campanha.
Segundo o marqueteiro,
Wilson o orientou a procurar Leandro Azevedo, executivo da Odebrecht, para
acertar parte do pagamento. Ele disse ainda que entre fevereiro e junho de 2010
foram feitos pagamentos mensais de cerca de R$ 300 mil, sempre em espécie por
meio de senhas combinadas e que geralmente as palavras eram nomes de peixes
como badejo e pintado. Na delação, Renato Pereira diz que os fornecedores
cobravam do PMDB valores menores do que eram faturados e que a sobra entrava
como caixa dois.
Campanha de Paes teria custado R$ 20 milhões
Outra campanha que teve
Renato como marqueteiro foi a reeleição de Eduardo Paes à prefeitura do rio em
2012. O delator contou que o próprio ex-prefeito o avisou que o executivo da
Odebrecht, Leandro Azevedo, iria lhe procurar e que, assim como na pré-campanha
de Sérgio Cabral em 2010, a Odebrecht fez pagamentos mensais, sempre em espécie
e sempre com senhas.
A campanha, segundo o
marqueteiro, custou R$ 20 milhões, valor negociado por Paes e Pedro Paulo
Carvalho, que já era deputado federal na época. A contratação foi feita através
da produtora Cara de Cão, com nota fiscal assinada pelo PMDB, em valor menor do
que o cobrado e com a diferença entrando no caixa dois.
Segundo Renato Pereira,
os valores de campanha foram repassados por um assessor de Paes, chamado
Guilherme Shileder, em encontros em carros e restaurantes marcados num
aplicativo de celular.
A A assessoria de Luiz
Fernando Pezão informou que todas as doações de campanha foram feitas de acordo
com a Justiça Eleitoral. A assessoria de Eduardo Paes e do deputado Pedro Paulo
disse que a delação é mentirosa e inconsistente e que Renato Pereira cita fatos
que depois diz não terem acontecido.
A defesa de Jacob
Barata Filho reitera que é falsa a história narrada pelo delator e destaca que
Renato não cita diretamente o empresário, indicando apenas intermediários que
não são identificados.
A Andrade Gutierrez e a
Odebrecht reiteraram que estão colaborando com as investigações dentro dos
acordos de leniência firmados com o Ministério Público Federal. As duas
empresas reforçaram o compromisso de esclarecer e corrigir os fatos irregulares
ocorridos no passado.
O PMDB do Rio foi
procurado, mas não se manifestou. A produção da TV Globo não conseguiu contato
com as defesas de Sérgio Cabral, nem de Leandro Azevedo. Ainda não foram
localizadas as defesas de Guilherme Shileder, Hudson Braga, nem com a produtora
Cara de Cão.
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