Facção planejava eleger prefeitos e vereadores na disputa de 2016
Documentos revelam ‘conexão estreita’ com as Farc e código de conduta


A Família do Norte (FDN), facção apontada como responsável pelo massacre no presídio de Manaus, planejava eleger prefeitos e vereadores nas eleições de 2016, segundo denúncias do Ministério Público Federal (MPF) feitas a partir de investigações da Polícia Federal. Não há informações sobre se os planos foram concretizados ou não.
Segundo a investigação, a facção movimentou milhões em contas de laranjas, comprou armas das Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) e fechou aliança com o Comando Vermelho — pacto selado no presídio federal de segurança máxima de Campo Grande, onde presos são levados para ficarem isolados.
Segundo uma das denúncias contra 94 pessoas supostamente ligadas à FDN, feitas no início de 2016, esses chefes “chegam inclusive a discutir como infiltrar seus integrantes na política, cogitando a eleição de vereadores e prefeitos para o próximo pleito de 2016”.

Lembra algo?


Numa das conversas interceptadas, José Roberto, apontado como chefe da facção, diz que pretende “eleger deputados cooptados pela FDN”, segundo a acusação.
Interceptações de dados feitas em outubro de 2015 reforçaram a suspeita de que o acordo entre as duas facções foi fechado na penitenciária de Campo Grande. Do lado da FDN, estaria Gelson Carnaúba; do CV, um preso identificado como Caçula. Quem relata a aliança é José Roberto, durante conferência realizada pelos integrantes por meio de um aplicativo de celular, segundo as investigações.
Segundo o MPF, a facção tinha “estreitas conexões” com as Farc, de quem comprou pistolas, fuzis AK-47 e submetralhadoras israelenses UZI. A denúncia diz ainda que um integrante da FDN negociou com Nelson Flores Collantes, narcotraficante ligado às Farc, conhecido como Acuario.

FARCS e PT: Tudo a ver!


Como prova da transação, há uma troca de mensagens de integrantes do grupo criminoso. Numa delas, o interlocutor envia fotos das armas adquiridas. O mesmo criminoso que negociou com as Farc teria movimentado, só em nove dias de outubro de 2015, mais de R$ 700 mil em contas bancárias de laranjas para pagar carregamento de armas e drogas.
O dinheiro, diz o MPF, era farto na organização criminosa, que operava armas e drogas na fronteira brasileira. A meta para a “caixinha” com a contribuição dos integrantes era de R$ 500 mil a R$ 1 milhão por mês. O dinheiro servia para financiar o tráfico internacional de drogas e como uma espécie de “previdência do crime”, destinada a integrantes presos e suas famílias, além do custeio de advogados. Para movimentar o dinheiro dos crimes praticados, a FDN usou contas de pessoas físicas e jurídicas e pagou 4% aos laranjas.
O MPF considera a FDN uma “complexa, de altíssima periculosidade, armada e bem estruturada organização criminosa, radicada no estado do Amazonas, voltada, especialmente, para prática de tráfico interno e internacional de drogas, além de homicídios, lesões corporais, corrupção de agentes públicos, lavagem de capitais, evasão de divisas, tráfico internacional de armas e tortura”.
No código de conduta da FDN, o “crime” de “pilantragem” pode ser punido com a morte. Segundo as “Doutrinas da Família”, documento apreendido pela PF, há comportamentos passíveis de “correção”. Segundo o MPF, a sanção pode ser tortura ou morte. No documento usado nas investigações contra membros da facção, o comando da FDN diz que tem como um dos objetivos a busca pela paz. “Porém, jamais fugiremos das guerras, quando elas se fizerem necessárias”, avisa.
COLEGIADO DECIDE PUNIÇÕES

Além de “irresponsabilidade ou qualquer tipo de pilantragem”, estão entre as condutas sujeitas a punição “agressões entre irmãos e companheiros”, “se apoderar indevidamente de áreas de irmãos”, “derramar sangue inocente” e “causar desavenças, intrigas ou desunião”. Também está incluído na lista o assassinato de membros da facção antes que o caso seja submetido ao conselho.
O colegiado, responsável por aplicar as sanções, é formado por “13 conselheiros do mais alto grau, aqueles que possuem total conhecimento de nossas regras, capacidade moral e senso de imparcialidade”.
Segundo o MPF, a facção age com “extrema violência” e costuma promover “um verdadeiro tribunal do crime que decreta sumariamente penas de morte a quem vá de encontro aos interesses da facção”. O “Estatuto da Família do Norte”, também apreendido, diz porém que “da união dos filhos desta terra nasce a Família do Norte, que tem como objetivo buscar a paz, a justiça e a liberdade para todos os que sonham com a igualdade entre os homens”.




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