Maria
Christina: A Dama de Espadas
Nos EUA, a ex-mulher de Valdemar Costa Neto diz ter
documentos de que Lula e Eduardo Cunha têm diamantes depositados em cofres no
Uruguai e Portugal
CARA DA RIQUEZA Maria
Christina diz ter dossiês contra Lula e Cunha: diamantes em cofres no Uruguai
A socialite Maria
Christina Mendes Caldeira, de 51 anos, sempre viveu um conto de fadas. Filha de
empreiteiros, nasceu em berço de ouro. Rica, sempre falou o que quis. Não tem
papas na língua. Nunca lavou uma louça, pegou um ônibus ou precisou trabalhar para
sobreviver. Cresceu em mansões luxuosas, estudou em escolas caríssimas e viveu
cercada por reis e rainhas pelo mundo afora. Até que, em 2004, sua vida mudou.
Para pior, claro. Virou um inferno. Conheceu o então deputado Valdemar Costa
Neto, que era presidente nacional do PP (hoje PR), com quem se casou. A festa
foi num mirabolante cassino em Las Vegas. Valdemar recebia milhões em propinas
do mensalão e gastava fortunas em jogatina. O casamento tinha tudo para dar
errado. E deu. Maria Christina foi aos poucos deixando as páginas de sociedade
para começar a freqüentar noticiosos sobre corrupção em política ou até
matérias policialescas.
Valdemar e Maria
Christina ficaram casados três anos. Nesse período, ela foi anotando tudo.
Dinheiro que o marido recebia de propinas, de quem recebia, sua relação espúria
com o então presidente Lula, com os aliados corruptos do PT. Fez um dossiê de
Valdemar. Quando o marido caiu nas malhas do mensalão, acusado de ter recebido
R$ 40 milhões do PT e embolsado pelo menos uns R$ 10 milhões, Maria Christina,
já separada de Valdemar, foi depor no Congresso contra ele. Levou debaixo do
braço o dossiê contra o ex-marido. Os dois passaram a se odiar. Trocaram juras
de vingança pela imprensa. Maria ajudou a condenar o ex-presidente do PP.
Valdemar pegou sete anos e dez meses de cadeia por corrupção passiva e lavagem
de dinheiro. Cumpriu uma parte e outra ficou com tornozeleira em casa. Recebeu
indulto do STF em 2015.
Nesse processo para
que Valdemar obtivesse o perdão judicial, Maria Christina escreveu cartas a
ministros do STF dizendo que o ex-deputado continuava ameaçando-a. Disse que um
homem com uma arma a ameaçou na rua dizendo para ela “esquecer o passado”. Hoje
Valdemar é um homem livre.
Livre, mais ou
menos. Maria Christina continua nos seus calcanhares. Diz que Valdemar a
ameaça, já fez dezenas de boletins de ocorrência policial contra ele. Valdemar
retaliou e até a luz da casa onde Maria Christina morava ele mandou cortar.
Maria, assim como Valdemar, ficou anos fora do noticiário. Até que na semana
passada Maria Christina reapareceu dizendo que estava de viagem marcada para os
Estados Unidos, onde iria morar, com nova identidade e proteção do Departamento
de Estado da Justiça dos EUA. Para surpresa geral, disse que tinha dossiês contra
o ex-marido, contra o ex-deputado Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara) e
contra o ex-presidente Lula.
Uma bomba. Disse
que Cunha e Lula “ganharam” diamantes em negócios escusos que fizeram na África
e os guardaram em cofres em Portugal e no Uruguai. Pode ser uma outra viagem de
Maria Christina. Ela disse ter provas. Afirma que ofereceu os documentos às
autoridades brasileiras, mas ninguém quis garantir sua vida caso divulgasse a
papelada toda contra Valdemar, Cunha e Lula. Por isso, ofereceu a documentação
aos americanos, que prometem, segundo ela, analisar os dossiês. Ofereceram-lhe
segurança. Pediram que ela fosse morar nos Estados Unidos, lhes entregasse os
papeis.
Recentemente,
documentos da Odebrecht sobre a corrupção no Brasil e em outros 12 países foram
entregues ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, precipitando o acordo
de leniência da empreiteira com o governo americano, suíço e brasileiro. A
Odebrecht pagou R$ 7 bilhões em propinas no mundo todo e vai ter que pagar
multas aos governos dos 12 países para livrar os executivos de cadeia nos EUA.
Maria Christina já
está há uma semana nos Estados Unidos. ISTOÉ tentou falar com ela, mas seu
celular não atendeu. Sua advogada Maristela Basso também não deu retorno às
ligações. Mas o certo é que Maria Christina faz relatos como se Lula e Cunha
tivessem agido como Indiana Jones na África, recebendo diamantes como parte das
propinas por negócios no Continente. Todo mundo sabe que Lula se empenhou até
os dentes para fazer negócios em países africanos, beneficiando empreiteiras
como a Odebrecht, que tem grandes interesses por lá, como em Angola e
Moçambique, onde se encontram os maiores diamantes do mundo. O ex-deputado
Eduardo Cunha, recebeu milhões em propinas em Benin, também na África, onde é
acusado de ter intermediado a venda de um campo de petróleo para a Petrobras.
Graças à isso está preso na Operação Lava Lato em Curitiba.
Segundo Maria
Christina, Lula e Cunha teriam guardado esses diamantes em cofres no Uruguai e
Portugal. Ela disse ter provas disso. Temendo morrer, afirmou ter guardado os
documentos em cinco países diferentes. Só para lembrar, Lula é investigado pela
Operação Lava Jato como suspeito de ter negócios no Uruguai. A Operação Lava
Jato investiga se ele é dono de uma mansão em Punta Del Este, cidade uruguaia
onde estão grandes cassinos latino-americanos. Era lá que o ex-marido de Maria
Christina ia jogar com freqüência no tempo em que o PT lhe dava grandes
quantias para supostamente abastecer deputados do PP e PR que votavam favoravelmente
ao PT na Câmara.
Maria Christina é
apenas mais uma mulher que pode abrir uma nova frente de investigação a
envolver políticos. Antes dela, Cláudia Cunha ajudou a detonar o marido,
Eduardo Cunha. Ela gastou R$ 1,8 milhão em cartões de crédito com o dinheiro de
propina recebido pelo marido. Comprava sapatos Louboutin, bolsas Vuitton e
torrava milhões de reais em hotéis de luxo nos EUA, Europa e Dubai. Já a mulher
do ex-governador Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, comprava centenas de jóias.
Gastou mais de R 6 milhões em brilhantes, como um colar de R$ 600 mil. No caso
de Maria Christina, a evidência poderá ser um colar de diamantes.
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