Delcídio do Amaral diz que CPI do Cachoeira foi criada para fazer justiça no mensalão
O ex-senador prestou depoimento nesta quinta-feira na 7ª Vara Federal Criminal do Rio
O ex-senador Delcídio
Amaral disse nesta quinta-feira, em depoimento à Justiça Federal do Rio de
Janeiro, que a CPI do Cachoeira no Congresso surgiu como uma forma de fazer
justiça por conta do mensalão. Delcídio foi ouvido como testemunha de acusação
num processo em que o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o ex-dono da Delta
Fernando Cavendish são réus na 7ª Vara Federal Criminal do Rio.
Em delação premiada, o
ex-senador disse que o ex-presidente Lula incentivou a criação da CPI como uma
forma de atingir o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
— Tinha um certo ranço do
mensalão — afirmou Delcídio no depoimento. — Essa CPI veio com o intuito de
justiçar o que tinha acontecido pra trás — completou, referindo-se ao
escândalo.
Em entrevista após o
depoimento à Justiça Federal, Delcídio falou que Lula foi um dos incentivadores
da CPI porque ela atingiria líderes da oposição e que o ex-presidente também
tinha conhecimento da operação para abafar a comissão.
— Dizem que chumbo
trocado não dói. Então, o chumbo voltaria, só que aí, quando perceberam, o
chumbo não estava voltando. O chumbo ia bater em quem estava querendo se vingar
e esvaziaram a CPI — afirmou o ex-senador.
Delcídio disse que o
esvaziamento aconteceu quando se percebeu que o esquema de desvio de dinheiro
de obras para bancar campanhas poderia ser descoberto:
— Falavam que, com as
quebras de sigilos, empresas apareceram e poderiam amarrar contribuições de
campanha a várias obras em andamento. Foi por esse motivo que resolveram
esvaziar e a CPI terminou melancolicamente sem resultado nenhum — afirmou.
DELAÇÃO DE DELCÍDIO
Em um dos termos da
delação premiada, Delcídio falou sobre a instalação e encerramento da CPI do
Cachoeira, que investigou as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O
parlamentar não foi integrante da comissão, criada em 2012, mas disse tê-la
acompanhado de perto. Segundo ele, “a CPI foi muito incentivada pelo
ex-presidente Lula com o objetivo de atingir o govemador do Estado de Goiás,
Marconi Perillo”. Perillo é do PSDB.
Na delação, Delcídio
afirmou que não se avaliou muito bem as consequências políticas da instalação
da CPI e que, durante os trabalhos, constatou-se que o financiamento de
campanha de 2010, especialmente do PT, teria sido realizado por meio de caixa
2, utilizando-se das empresas de Adir Assad, nome que apareceu nas
investigações da comissão.
No momento em que as investigações
chegaram a esse ponto, de acordo com Delcídio, os próprios componentes da base
do goveno se articularam para acabar com a CPI por perceberem os riscos
envolvidos. O senador disse não se recordar quem fazia a articulação política
do governo nesta época.
O parlamentar declarou
ainda que houve reunião com as bancadas de apoio ao govemo, que orientaram os
parlamentares que pertenciam à CPI do Cachoeira à encerrar os trabalhos.
Delcídio cita que José de Filippi era o tesoureiro da campanha da presidente
Dilma Rousseff e era ele quem orientava as empresas doadoras a atender
eventualmente a campanha presidencial ou as demais campanhas petistas e aliados
a utilizarem as empresas de Adir Assad. Ex-prefeito de Diadema, José de Fillipi
foi levado para depor na 24ª fase da Lava-Jato em que o ex-presidente Lula
também prestou depoimento.
OPERAÇÃO SAQUEADOR
O ex-senador depôs hoje
no processo da operação
Saqueador, da qual foram alvos Fernando Cavendish, Carlinhos
Cachoeira, e o empresário Adir Assad, que já foi condenado na Operação
Lava-Jato. Cachoeira e Cavendish estão em prisão domiciliar. Cachoeira veio ao
Rio de Goiás com a autorização do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal
Criminal do Rio, e acompanhou até ontem as audiências.
A lista de réus na
Saqueador conta com executivos, diretores e conselheiros da Delta e
proprietários e contadores de empresas fantasmas. Para o MPF, o então dono da
Delta era o líder da organização criminosa. A relação entre Cachoeira e
Cavendish veio à tona com a Operação Monte Carlo e a CPI do Cachoeira, em 2012.
Os dois compareceram ao Congresso na ocasião das investigações.
A investigação constatou
que os envolvidos, "associados em quadrilha", usaram empresas
fantasmas para transferir cerca de R$ 370 milhões, obtidos pela Delta direta ou
indiretamente, por meio de crimes praticados contra a administração pública,
para o pagamento de propina a agentes públicos.
De acordo com
investigação do MPF, 96,3% do faturamento da Delta entre os anos de 2007 a 2012
era oriundo de verbas públicas, totalizando um montante de quase R$ 11 bilhões.
Os procuradores afirmam que mais de R$ 370 milhões foram lavados por meio de 18
empresas de fachada. Os responsáveis pela criação delas foram Cachoeira, Assad
e Abbud. Por meio de contratos fictícios, as empresas fantasmas lavavam os
recursos públicos. Os recursos eram sacados em espécie para o pagamento de
propina a agentes públicos para impedir o rastreamento das verbas.
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