FORAM OITENTA POR CENTO DAS
DOAÇÕES NO 'CAIXA DOIS' PARA CAMPANHA DE DILMA, DIZ ODEBRECHT
MARCELO ODEBRECHT CONTA COMO BANCOU A CAMPANHA DE DILMA
Em depoimento à Justiça
Eleitoral realizado nesta quarta-feira (1), o executivo Marcelo Odebrecht,
herdeiro e ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, afirmou que 4/5 das
doações para a campanha presidencial de Dilma Rousseff tiveram como origem o caixa
2. A audiência comandada pelo ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Herman Benjamin ocorreu na sede do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná
(TRE-PR), em Curitiba.
Segundo relatos, Marcelo
afirmou no depoimento que a petista tinha dimensão da contribuição e dos
pagamentos, também feitos por meio de caixa 2, ao então marqueteiro do PT, João
Santana. A maior parte dos recursos destinados ao marqueteiro era repassada em
espécie.
As negociações eram
feitas diretamente entre Marcelo, Santana e o ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega. Na audiência, Marcelo cita inclusive um encontro com Dilma no México,
ocasião em que teria lembrado que os pagamentos feitos a Santana estavam
"contaminados", uma vez que as offshores utilizadas por executivos do
grupo serviam para pagamento de propina.
ELE CONTOU TAMBÉM QUE PAGOU EM
ESPÉCIE O TRABALHO DO MARQUETEIRO JOÃO SANTANA PARA O PT. (FOTO: GIULIANO
GOMES, AE)
Marcelo lembrou que o
valor acertado para a campanha presidencial do PT de 2014 foi de R$ 150
milhões. Deste total, R$ 50 milhões eram uma contrapartida à votação da medida
provisória do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009, que beneficiou a
Braskem, empresa petroquímica controlada pela Odebrecht e pela Petrobras.
Ao detalhar a
distribuição de recursos, Marcelo informou ainda que R$ 10 milhões foram
diretamente para a campanha de Dilma, como doação oficial. Outros R$ 5 milhões
foram repassados via PT. Também teriam ocorridos pagamentos de "dezena de
milhões" para partidos aliados.
Marcelo foi questionado
sobre o início da relação com o governo do PT. Ele ressaltou que as primeiras
conversas ocorreram em 2008, quando o ex-ministro Antônio Palocci o procurou
para pedir doações para as eleições municipais daquele ano, especificamente
para as que João Santana estava trabalhando.
Na ocasião, o empresário
disse a Palocci que não lidava com campanha municipal, mas apenas com as
presidenciais. Considerou, contudo, que podia ser acertado um valor para 2010 e
que, quando chegasse o período da campanha presidencial, a quantia entregue
para a campanha municipal seria descontada. Quando Palocci deixou a Casa Civil,
Dilma teria definido que o novo interlocutor seria Guido Mantega, dessa forma
estava encerrada a conta "Italiano" e foi aberta a
"Pós-Italia".
MARCELO
ODEBRECHT DEIXOU CLARO QUE, SE ERA CAIXA DOIS, ERA PAGAMENTO DE PROPINA. (FOTO:
GIULIANO GOMES, AE)
Marcelo Odebrecht disse
em depoimento à Justiça Eleitoral, nesta quarta-feira (1), que se sentia o
"bobo da corte" do governo federal, tendo sido obrigado a entrar em
projetos que não desejava e a bancar repasses às campanhas eleitorais sem receber
as contrapartidas que julgava necessárias. "Eu não era o dono do governo,
eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo", disse
Marcelo.
No depoimento, Odebrecht
falou ainda sobre a "naturalidade" do caixa 2 em campanha eleitoral,
defendeu a legalização do lobby e deixou claro que a Odebrecht não era a única
empresa a usar doações para conquistar apoio político. O caixa 2, segundo ele,
envolve pagamento de propinas.
Marcelo foi preso em
junho de 2015, no âmbito da Operação Lava Jato, acertou delação premiada, e
deve permanecer na carceragem da Polícia Federal em Curitiba até o final deste
ano.
Ele também se mostrou
incomodado por divergências com seu pai, presidente do Conselho de
Administração do Grupo Odebrecht, Emilio Odebrecht, quanto a projetos em que a
empresa apoiava o governo.
O ex-presidente da
empreiteira foi ouvido pelo ministro Herman Benjamin, relator da ação que
tramita no Tribunal Superior Eleitoral e investiga a chapa formada por Dilma e
Michel Temer na campanha eleitoral de 2014.
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