Telegrama secreto dos EUA relata corrupção na ditadura, diz jornal

Um telegrama de março de 1984, despachado da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil para o Departamento de Estado, em Washington, traça um quadro de abatimento do governo de João Figueiredo (1979-1985), ao mencionar uma série de acusações de corrupção.
O documento, obtido pelo jornal O Globo, faz parte de um lote de 694 documentos enviados pelo governo de Barack Obama ao de Dilma Rousseff, para que a Comissão da Verdade examinasse abuso de direitos humanos durante o período da ditadura militar.
O então ministro do Planejamento, Delfim 
Netto, é citado como alvo de acusações em dois casos.  Num deles, conhecido como o caso das polonetas, havia suspeitas em torno de empréstimo de US$ 2 bilhões à Polônia a taxas de juros consideradas baixas.
Em outro, um documento conhecido como “relatório Saraiva” — acusava Delfim de, quando embaixador em Paris, receber propina para intermediar negócios entre bancos estrangeiros e estatais brasileiras. Ao jornal, ele negou qualquer relação ou irregularidade nos dois casos.
Também estão no informe menções ao escândalo da mandioca (desvio de verbas para produtores) e as suspeitas contra os dois pré-candidatos do PDS (hoje PP) à Presidência, o ex-governador Paulo Maluf e o então ministro Mário Andreazza. O jornal não localizou a assessoria de Maluf.
O texto de 1984 afirma que a corrupção abatera de forma tão grande a imagem dos militares entre os brasileiros que era um fator decisivo para que eles saíssem do poder.
“Entre muitos oficiais, dos mais baixos aos mais altos, há uma forte crença que os últimos 20 anos no poder corromperam os militares, especialmente o alto comando e que agora é hora de deixar a política e suas intempéries e voltar a ser soldado”, diz um trecho.
O alerta, no entanto, era que mesmo com a saída dos militares os efeitos da corrupção ficariam e poderiam desestabilizar a política nos anos seguintes.
O Ministério da Defesa informou ao Globo que os telegramas são conhecidos pelo governo desde 2015 e que não há nenhum novo posicionamento a fazer.



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