Empresa de Picciani lavou dinheiro com venda de gado, afirma ex-presidente do TCE-RJ

 Jonas Lopes citou ocasião em que simulou ao menos R$ 500 mil oriundos de propina
RIO - Em trechos de sua delação premiada ainda mantidos sob sigilo, o ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), Jonas Lopes, afirma ter participado de um esquema de lavagem de dinheiro comprando gado da empresa do presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB-RJ). Em pelo menos um episódio, em setembro de 2014, a venda de 100 animais da Agrobilara, empresa de Picciani, teve notas fiscais emitidas no valor de R$ 100 mil, mas foram repassados R$ 600 mil a Picciani, segundo Jonas. As informações foram divulgadas primeiramente pela TV Globo.
Estes trechos da delação de Jonas Lopes constam da denúncia oferecida na semana passada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o próprio Jonas, contra seu filho, Jonas Lopes Neto, e contra Jorge Luiz Mendes, funcionário do TCE-RJ, por corrupção passiva. E contra o doleiro Álvaro Novis por corrupção ativa. A denúncia contra eles foi oferecida ao STJ porque é o foro para conselheiros de tribunais de contas.
Na denúncia, o vice-procurador-geral da República, José Bonifácio de Andrade, pede ao STJ que desmembre o inquérito em tramitação no STJ. Que os fatos narrados na delação de Jonas Lopes envolvendo membros da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) sejam remetidos ao Tribunal Regional Federal (TRF-2) e que sejam encaminhados à primeira instância da Justiça Federal do Rio os relacionados e pessoas sem prerrogativa de foro.
A delação de Jonas Lopes baseou a Operação Quinto do Ouro, que, em março, chegou a levar à prisão os demais conselheiros do TCE-RJ, mas alguns trechos relativos a outras autoridades ainda não vieram a conhecimento público. Em março, O GLOBO mostrou que Picciani era suspeito de organizar o pagamento aos conselheiros do TCE-RJ de propina vinda da Fetranspor, para que a fiscalização dos contratos das empresas de ônibus com o governo fosse afrouxada.
Agora, novos trechos da delação de Jonas Lopes revelam outros episódios. O ex-presidente do TCE-RJ diz que Picciani vendia gado de sua Agrobilara por preço abaixo do mercado para dissimular dinheiro obtido ilegalmente. O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, é sócio de seu pai na Agrobilara.
A denúncia elenca ainda pagamentos de propina a conselheiros do TCE-RJ para não fiscalizar corretamente contratos do empresário Arthur Soares, do Grupo Facility, com o governo estadual; e por contratos com Organizações Sociais (OSs); pela iluminação do Arco Metropolitano; e pela contratação da empresa de coelta de lixo de Duque de Caxias.
Jorge Picciani, que está em licença médica da presidência da Alerj, afirmou que Jonas Lopes mentiu em sua delação, e que todas as operações da Agrobilara foram auditadas, com impostos recolhidos corretamente e por preços compatíveis com o mercado.
O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, afirmou em nota que seu nome não foi citado pelo delator, "até porque não praticou nenhuma ilegalidade".






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