Comparecimento à eleição da Constituinte teria sido alterado em
1 milhão de votos, diz empresa que atua no sistema eleitoral do país desde 2004
São Paulo – O número de
eleitores que participaram da eleição da Assembleia Nacional Constituinte (ANC)
do último domingo na Venezuela foi manipulado.
A acusação veio à tona nesta terça-feira pela Smartmatic, empresa que
trabalha em pleitos venezuelanos desde 2004. Conduziu, inclusive,
as duas últimas eleições presidenciais: 2006 e 2012, que reelegeram Hugo
Chávez.
A informação foi dada
pelo presidente da companhia, de Londres, e repercutida por agências internacionais.
De acordo com ele, os números oficiais foram inflados em um milhão. Números
oficiais divulgados no início da semana informaram que o comparecimento às
urnas foi de 8.089.320 de pessoas.
“Sabemos, sem dúvidas,
que o comparecimento da última eleição para a Assembleia Nacional Constituinte
foi manipulado”, declarou Antonio Mugica, CEO da Smartmatic. Ainda segundo ele,
a fraude foi detectada em razão do sistema eleitoral automatizado usado no
país. O executivo se recusou a responder se tal manipulação poderia mudar o
resultado final da eleição.
O órgão eleitoral
venezuelano negou tal manipulação e classificou a denúncia como
“irresponsável” e “sem fundamento” em comunicado emitido no fim dessa
quarta-feira.
Assembleia Constituinte
O governo do
presidente Nicolás Maduro
vem enfrentando críticas e ameaças de sanções da comunidade internacional desde
que colocou em andamento o processo de eleição de uma ANC que tem como objetivo
reescrever a Constituição em vigor no país desde 1999.
No último domingo, eleitores de toda a Venezuela foram às urnas para eleger
os nomes que farão parte desse conselho, que foi oficialmente instalado nesta
quarta-feira na capital Caracas. Números oficiais estabeleceram que o
comparecimento às urnas foi de 8.089.320, cerca de 41% do eleitorado. Um dos
eleitos é Nicolásito, filho de Maduro.
A questão dos números é
delicada e grave, já que um dos argumentos do governo para tentar dar
legitimidade ao pleito ante a população era o de que mais pessoas compareceram
para a eleição dessa ANC no último domingo que contra o seu estabelecimento em
junho. Na ocasião, uma votação simbólica conduzida pela oposição sobre a
realização dessa eleição teria contado com votos contra de 7,5 milhões de
pessoas.
Do ponto de vista
legal, a eleição enfrenta problemas que incendiaram ainda mais o debate sobre a sua legitimidade, uma vez que a Constituição
atual prevê que o presidente tem a competência para convocar uma Assembleia
Constituinte, mas que essa convocação deve, antes, se referendada por voto
popular.
O clima é de tensão, já que líderes da oposição foram presos na terça-feira e levados
para locais desconhecidos, aumentando as críticas de desmantelamento
democrático. Ainda na última terça, três deputados chavistas que eram parte da
bancada do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) de Maduro
para criar um novo grupo de oposição.
“Em 1999 foi o povo
quem convocou a Constituinte. Hoje só foi convocada por um poder constituído e
não podemos nos calar”, disse Eustoquio Contreras. A expectativa é que
outros membros da casa, também da bancada governista, se juntem ao grupo.
Enquanto a crise
política assola as instituições venezuelanas, os protestos, a favor e contra
Maduro, seguem por todo o país. As manifestações se iniciaram em abril e a
maioria delas terminou em confrontos violentos. Até o momento, foram
registrados 121 mortos, quase 2.000 feridos e mais de 5.000 detidos. Só no
último domingo, quando a votação era conduzida, dez pessoas morreram.
Por Gabriela Ruic com agência Reuters
access_time2 ago 2017, 18h00 - Publicado em 2 ago 2017, 10h23
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