Caminhoneiros estão parados desde segunda-feira afetando vários setores da economia do país; mas como chegamos a esta crise?
A greve dos
caminhoneiros, que entrou no seu quarto dia nesta quinta-feira e afeta vários
setores da economia do país, tem sua raiz na insatisfação com a política de
preços dos combustíveis, que passou por uma mudança significativa no início do
governo Michel Temer, em 2016.
Os reajustes passaram a
ser determinados pela Petrobras de acordo com variações do dólar e do preço do
petróleo no mercado internacional.
Antes, no governo de
Dilma Rousseff, a variação dos preços internacionais era repassada de forma defasada
aos valores praticados no país, um mecanismo usado para tentar segurar o
aumento da inflação.
Veja abaixo, com mais detalhes, a cronologia dos fatos que
levaram à atual crise.
2008 a 2014 - 'Interferência política' e preço abaixo do mercado
A ex-presidente Dilma Rousseff visita as obras da P-74 (Petrobras) no Estaleiro Inhaúma, na região de São Gonçalo, em 2013 (Foto: Rudy Trindade/Frame/Folhapress)
O governo Dilma era acusado
de usar a Petrobras como instrumento de política macroeconômica para controlar
a inflação.
A prática de controlar e
atrasar o repasse dos preços internacionais aos combustíveis no mercado interno
permitia ao governo, na prática, influenciar os índices de inflação por meio da
gasolina e do diesel - praticamente obrigando a Petrobras a vender os produtos
a preços abaixo do mercado, o que teria causado grandes prejuízos à empresa.
Agindo assim, o governo
evitava que a elevação do preço dos combustíveis se disseminasse pela economia
afetando os outros produtos que dependem diretamente de transporte rodoviário e
de insumos derivados do petróleo, capitalizando o impacto na inflação geral.
Junho de 2016 - Declaração de 'independência
Pedro Parente, presidente da Petrobras, durante apresentação dos resultados da Petrobras, que registrou no 1º trimestre o maior lucro desde 2013 (Foto: Sergio Moraes/Reuters)
Em 2016, Pedro Parente,
novo presidente da Petrobras, foi empossado por Michel Temer afirmando que a
política de preços passaria a ser guiada pelos interesses da empresa, sem
influência do governo.
Em outubro do mesmo ano,
o valor dos combustíveis começou a acompanhar a tendência do mercado
internacional tomando por base não somente o preço do petróleo bruto, como
também custos como frete de navios, custos internos de transporte e taxas
portuárias, além de uma margem para remunerar riscos inerentes à operação, como
a volatilidade da taxa de câmbio e dos preços, taxas portuárias, lucro e
tributos.
Com a nova política, as
revisões de preços passaram a ser feitas pelo menos uma vez por mês, podendo
haver manutenção, redução ou aumento nos valores praticados nas refinarias e
possível impacto nas bombas, para o consumidor.
"Para permitir maior
flexibilidade na gestão comercial de derivados e estimular aumentos de
vendas", a Petrobras também afirmou na época que avaliaria conceder
descontos pontuais para o diesel e a gasolina em mercados específicos, mas que
"em hipótese alguma" esses descontos levariam o preço para um patamar
abaixo dos custos.
A estatal ressaltou ainda
que não praticaria preços abaixo da paridade internacional, sinalizando o fim
do combustível amplamente subsidiado, política adotada por governos anteriores.
Junho de 2017 - Frequência maior de ajustes
Depois de avaliar que não
estava conseguindo acompanhar a volatilidade crescente da taxa de câmbio e das
cotações de petróleo e derivados, a Petrobras anuncia que haveria uma
frequência maior nos ajustes de preços.
A partir de 03 de julho
de 2017, a empresa passou a realizar ajustes nos preços "a qualquer
momento, inclusive diariamente".
"A revisão da
política aprovada permitirá maior aderência dos preços praticados do mercado
doméstico ao mercado internacional no curto prazo e possibilitará à companhia
competir de maneira mais ágil e eficiente", disse a Petrobras, na época.
O preço do petróleo,
depois de dois anos em recordes mínimos, começava, justamente em junho de 2017,
a subir no mercado internacional.
Em dezembro, pela
primeira vez desde a implementação dessa nova política, o litro de gasolina
ultrapassava a barreira dos R$ 4 nos postos.
Maio de 2018 - Greve
Greve de caminhoneiros nas proximidades de Juatuba, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG) (Foto: Moisés Silva/O Tempo/Estadão Conteúdo)
O mês marca a chegada de
protestos dos caminhoneiros, insatisfeitos com os constantes reajustes e o
aumento do preço dos combustíveis, que, segundo representantes da categoria,
tornou inviável o transporte de mercadorias no país.
No dia 16 de maio, a
Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) apresentou um ofício
ao governo federal pedindo o congelamento do preço do óleo diesel e a abertura
de negociações, mas foi ignorada. No dia 18 (última sexta-feira), a organização
lançou um comunicado em que mencionava a possibilidade de paralisação a partir
de segunda-feira, o que de fato ocorreu.
Na terça, pouco depois de
a Petrobras anunciar redução nos preços do diesel nas refinarias, motivada por
uma leve queda do dólar, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, declarou que
não havia espaço para cortar impostos, diante da dificuldade de equilibrar as
contas públicas.
Na quarta-feira,
pressionado pelos efeitos da greve, Pedro Parente, anunciou que a estatal fará
uma redução de 10% no preço do óleo diesel - e que manterá este preço durante
as próximas duas semanas. A paralisação, no entanto, continuou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário