Brasília - A reforma
política que deu poderes aos presidentes de partidos para que eles distribuam
bilhões de reais durante a campanha deste ano será responsável, provavelmente,
por um grande desvio de dinheiro público semelhante aos escândalos dos últimos
anos. Ao transformar esses donos de legendas em coronéis financeiros, a
legislação permite que eles selecionem os candidatos que devem receber suas
cotas para gastar na campanha à sua melhor conveniência. Os que se sentirem
prejudicados certamente vão entrar na Justiça e o R$ 1,7 bilhão do fundo
eleitoral pode ser suspenso interrompendo campanhas em alguns estados.
A ideia da criação do
fundo era evitar que empresas participassem com dinheiro lícito ou ilícito nas
campanhas, depois da descoberta da maior rede de corrupção do país com a
geração do caixa dois por meio de contratos fraudulentos das empreiteiras com
as empresas públicas. Pois bem, a nova lei, agora, deixa nas mãos dos
presidentes dos partidos, muitos envolvidos na Lava Jato, a divisão do dinheiro
para cada candidato nos estados. Abre-se, assim, é claro, uma janela para
fabricação de notas fiscais frias e outros artifícios para justificar a saída
desses recursos bilionários para centenas de candidatos no país.
Ora, se o Congresso legislou para moralizar as eleições, na prática, a realidade é outra. Ninguém sabe – nem advogados especializados – como será feito o rateio dessa fortuna na campanha. Até o momento, os candidatos majoritários, principalmente, desconhecem como vão fazer suas campanhas e como devem receber suas cotas, o que impede que eles contratem produtoras, marqueteiros, gráficas e montem a infraestrutura da campanha. Ganha quem apostar que esta será a eleição mais fraudada da história se os tribunais não forem vigilantes com a distribuição desse fundão. O mais grave, porém, são os buracos na legislação que dão margem a corrupção e o desvio de recursos do fundo eleitoral. Candidatos medíocres, os porcas urnas, aqueles de pouca importância – ou nenhuma - numa coligação partidária, vão ressurgir nas eleições. Muitos aparecem nessas horas para extorquir empresários. Outros, mais habilidosos, apresentam-se como laranjas. Existem, no entanto, aqueles que estão no mandato e vão apelar para se reeleger. Preteridos na distribuição da cota, vão correr atrás do dinheiro fácil. Políticos experientes, com quem conversei, alertam que esse dinheiro invisível poderá vir do tráfico de drogas. Dizem que, a exemplo do surgimento das bancadas dos evangélicos e dos ruralistas no Congresso Nacional, os traficantes também se preparam para ocupar espaço na política e formar seus ninhos no congresso financiando candidatos. Em doses homeopáticas isso já vem ocorrendo. No Rio, a deputada federal Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, e o deputado estadual Marcus Vinicius (PTB), respondem a processo por associação ao tráfico, depois da descoberta de que traficantes do bairro de Cavalcanti ajudaram a elegê-los. Ora, não é difícil supor que candidatos sem acesso ao fundo eleitoral recorram ao dinheiro fácil da droga para bancar suas campanhas, já que o caixa dois – se existir – estará muito vigiado e alguns desses políticos vão preferir o dinheiro “não contabilizado” para financiar suas campanhas. O Brasil, na América do Sul, não seria o único país com uma bancada financiada pelo narcotráfico. É bom lembrar que na Colômbia até o chefão Pablo Escobar representou a sua turma na Câmara dos Deputados eleito legitimamente pelo voto popular. Portanto, não seria de se estranhar que o narcotráfico e as facções criminosas, que agem dentro dos presídios, comandassem ações aqui fora para criar uma base política de defesa de seus interesses no Congresso Nacional. No comércio das drogas, o Brasil não está tão longe dos cartéis colombianos.
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